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sábado, 20 de abril de 2024

Raízes Indígenas de Floresta/PE

 

Índios Tapuias (imagem da internert)

O município de Floresta, possui uma história original a partir dos povos indígenas que habitavam a região do Rio Pajeú e seu entorno, denominados de forma generalizada como Tapuias / Tapuios ou Tapuias-Kariris. Os quais também habitavam largas porções do agreste e outras localidades do sertão.

Posteriormente outras tribos vieram para o sertão fugindo do litoral, sobretudo os Kariris, ameaçados pelos colonizadores que escravizava-os ou simplesmente matava-os.

No sertão estavam principalmente os nativos que falavam uma língua, segundo os Tupis, muito diferente da deles e por isso denominaram-lhe de Tapuia, nome ofensivo que significa língua travada, bárbaro. O termo passou a ser usado pelos portugueses.

Das tribos chamadas de Tapuias na região, pelo que se tem notícias, através de documentos, relatórios e crônicas da época colonial incluem-se os Umãs, Vouves, Xocó, Kariri, Pankarurú, Periá, Tuxá, Pipipã, Proká e Quesque, entre outros, conforme ilustrado no mapa a seguir, produzido pelo antropólogo e etnólogo *Curt Nimuendajú.

Mapa destacando as tribos indígenas na área do Rio Pajeú e seu entorno

Os Tapuias viviam como semi-nômades e tinham formas próprias de guerrear com tacape e lança.

Tinham o milho e o feijão como cultivos principais.

Usavam pouca cerâmica e não teciam; dormiam em estrados de madeira (jiraus).

Havia agrupamentos ou tribos na margem do rio que podia ter até mil moradores.

O índio (ou nativo) sofreu perseguição desde o início da colonização e teve no século XVIII seu extermínio quase total, através das bandeiras montadas para sua captura.

Os índios do sertão sofreram guerras por defenderem as suas terras ou por pretenderem desfrutar os gados das fazendas que se espalhavam por seu território.

Os que não foram mortos ou escravizados refugiaram-se em aldeias dirigidas por missionários, chamadas de MISSÕES. Outros ainda procuraram amparo com "homens poderosos" (fazendeiros, políticos e coronéis) servindo-lhes, como vaqueiros e também como jagunços.

O indígena trabalhava forçado nas Missões, ou como escravo nas fazendas de gado e plantações. Também nas casas como domésticos ou no trabalho de transporte.

O índio também foi cruelmente utilizado para guerrear contra outros nativos.

No final do século XVIII as chamadas “Guerras dos Bárbaros” praticamente exterminaram na bala e no facão as nações indígenas que resistiam contra os invasores brancos. Do baixo sertão até a cabeça do Pajeú, nos limites com a Paraíba, os índios foram caçados e massacrados.

Com base em pesquisas nos livros de batismo e casamento das paróquias do sertão pernambucano, no final do século XVIII e no século XIX, os índios nativos (registrados em geral como “da silva”) que sobreviveram já aparecem miscigenados com negros e brancos e constituem a massa da população brasileira dos sertões, conhecida como os pardos ou caboclos.

A história conta da agressividade com que eram tratados os índios em sua captura

É comum, ainda hoje, encontrar relatos de várias pessoas, descendentes de indígenas, que contam "minha bisavó, foi apanhada a dente de cachorro".

Um exemplo claro de como eram desumanamente tratados os índios (povos originários) que habitavam a região.


Alianças e Resistências

Não há como negar que mesmo em processo de colonização e ocupação, várias denominações e ou agrupamentos indígenas se tornaram aliados dos opressores e utilizados inclusive, nos conflitos praticados com as tribos que se rebelaram.

Os que travaram as lutas de resistência eram chamados de "índios brabos" ou "bárbaros", quando não eram chamados de selvagens.

Dentre as tribos que mais resistiram, estão os Tapuias Kariris.



O Rio Pajeú

O nome do Rio Pajeú originou-se do vocabulário indígena que segundo Nelson Barbalho (v. 9, 1983, p. 134) significava "o rio do feiticeiro, do adivinho". O rio nasce no município de Brejinho ao Norte de Pernambuco desaguando no Rio São Francisco formando a Bacia do Vale do Pajeú.

Outros registros dão conta de que a origem do nome, o qual era chamado pelos índios de “Payaú”, ou “rio do pajé”.

O apagamento histórico

Primeiro vieram as invasões dos colonizadores que trataram os povos originários como animais ou até mesmo coisa pior, caçando-os e perseguindo-os com o intuito de escravizar e dominar. Essas atitudes buscavam descaracterizar ou desconhecer a civilização existente nos agrupamentos indígenas, seu modo de vida, sua cultura e sua espiritualidade.

Em segundo, juntamente com os colonizadores veio a Igreja Católica com suas "Missões" catequizadoras e a constituição dos aldeamentos, o que no final das contas tinha o mesmo objetivo de escravizar e dominar os povos originários locais. As próprias missões perseguiam e demonizavam as tradições originárias dos povos, insistindo na negação de suas crenças e de seus modos de vida tradicionais.

Em terceiro, vem a diluição etnica dos povos indígenas já mesmo nas missões e, quando da extinção das mesmas, aonde os seguimentos detentores do poder se encarregaram de declarar a não existência dos indígenas na região, para possibilitar o controle sobre as terras e causar o  apagamento da presença indígena na história social local e regional.

É comum na história formal e/ou oficial dos municípios da região, mesmo os que cujos nomes provem da origem indígena, resumirem essa presença indígena apenas à menção de que as terras "eram ocupadas por tribos indígenas", isso quando não omitem por completo, a presença indígena.


O ressurgimento indígena

Destacamos em primeiro lugar, que a abordagem do tema "ressurgimento indígena" não quer dizer que significa que os povos indígenas tenham realmente sido extintos, como assim publicaram os setores dominantes e opressores nos finais do século XIX.

Mesmo apagados, chamados de mestiços, caboclos, cabras e pardos e, tendo que se deslocarem de uma região para outra em busca de sobrevivência, vários descendentes das tribos indígenas originárias, mantiveram suas tradições, ainda que escondidas, longe dos olhares opressores e, foram capazes de preservar as bases necessárias para os reconhecimentos étnicos que se deram a partir dos anos de 1940 aos dias de hoje.

Referências Indígenas atuais de Floresta/PE

Para pensar e conhecer as referências indígenas atuais em Floresta/PE, se faz necessário ter uma dimensão mais ampla, considerando as influências e os processos de resistência que se deram nos deslocamentos e nos ajuntamentos nas Serras Negra, Umãs, Arapuá e Tacaratu, além de outras localidades que foram espaços territoriais de resistência humana e ancestral.

Também se faz necessário compreender que esse processo de resistência se faz na mistura ou mesclagem com os negros e negras, muitos hoje reconhecidos como remanescentes de quilombolas, produzindo uma reinvenção étnica e tradicional, visivelmente presente nas etnias Atikum, Pankararú e Pankará, no entorno de Floresta e, na Etnia Pipipã localizada no território local da Serra Negra.

MAPA DA ÁREA RURAL DE FLORESTA

Tradições e Referências Culturais e Históricas de Floresta/PE de origem Indígena

Destacamos a seguir algumas das muitas referências e tradições culturais e históricas que marcam a presença indígena na história de Floresta/PE.

Importante destacar de forma prévia que o desenvolvimento econômico, arquitetônico e da estrutura social, não seria possível ter existido, sem a mão de obra indígena e negra, quer seja escrava, quer seja subordinada ou assalariada.

Tradições Culturais

Banda de Pífano


A Banda de Pífanos é uma das criações indígenas juntamente com o povo negro, tendo se tornado uma das referências mais importantes da cultura popular e tradicional de Floresta, tendo no Mestre Elias de Flora seu personagem principal.

Na foto em destaque a Banda de Pífanos acompanha o cortejo da Confraria do Rosário dos Pretos. 

Dança do São Gonçalo


A Dança de São Gonçalo é uma das mais antigas tradições populares de Floresta e região, que mistura devoção com cultura popular.

Não é de origem indígena ou negra e sim de Portugal, más foi absorvida pelas comunidades populares, especialmente compostas por remanescentes indígenas e negros, portanto, podendo ser considerada uma manifestação popular com raízes indígenas.

Na foto em destaque, o Grupo de São Gonçalo da Comunidade Malhada Vermelha, tendo a frente o Mestre Antonio Etelvino.

Referências Históricas

Inscrições rupestres na Fazenda Mãe D'água


Nas inscrições rupestres localizadas em formações rochosas da Fazenda Mãe D'água, uma comprovação muito importante da passagem dos povos indígenas pela região, em tempos passados. 

Vista da Serra Negra


Vista da Serra Negra, um dos mais importantes referenciais naturais e históricos, que foi o último reduto de resistência dos povos indígenas e negros contra a opressão colonizadora. Hoje, Território que acomoda duas Etnias Indígenas, o Povo Pipipã pela parte de Floresta e o Povo Kambiwá, pela parte de Ibimirim.

Outros aspectos históricos muito importantes se somam na caracterização da influência indígena na construção social e humana de Floresta-PE e seu entorno.

Varias expressões da culinária local, no artesanato em palha (especialmente o Caroá) nomes de localidades e plantas carregam a participação dos povos originários.

No mapa da área rural de Floresta (acima) encontram-se diversos nomes de propriedades os quais tem origem indígena.

Também em relação à tradição de rezadores(as), benzedeiras, parteiras e o uso das ervas sagradas, tem traços fortes dos costumes indígenas, somados à contribuição dos(as) africanos(as) trazidos para serem escravizados.

CRÉDITOS:
- Pesquisa, Texto e Redação: Libânio Francisco
- Fotos: Colhidas na Internet
- Foto da Dança do São Gonçalo: Libânio Francisco / TV Raízes da Cultura

Obs.: O presente texto e conteúdo faz parte do Documentário que está sendo produzido pelo Instituto Cultural Raízes, com patrocínio da Lei Paulo Gustavo, cujo título é: RAÍZES AFRICANAS E INDÍGENAS NA FORMAÇÃO SOCIAL E CULTURAL DE FLORESTA.

Curt Nimuendajú - Kurt Unckel (1883-1945) nasceu na cidade alemã de Jena e tornou-se etnólogo a partir da experiência de contato e de pesquisa com povos indígenas no Brasil. Recebeu a alcunha de Nimuendajú (o que fez seu assento, o que se estabeleceu, conforme tradução livre do linguista Aryon Rodrigues) pelos guaranis do oeste paulistano, por volta do ano de 1905. Naturalizou-se brasileiro em 1920, adotando oficialmente o nome a ele dado pelos indígenas. Foi um dos principais pesquisadores da diversidade social e cultural da Amazônia. Além de uma vasta obra intelectual, também produziu três versões do Mapa por encomenda das instituições de pesquisa Smithsonian Institution, Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu Nacional do Rio de Janeiro. 

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