CONHEÇA A TV RAÍZES DA CULTURA

CONHEÇA A TV RAÍZES DA CULTURA
ACOMPANHE NOSSO PROJETO DE COMUNICAÇÃO

sábado, 25 de janeiro de 2020

Desigualdade recorde: 1% mais rico tem 33 vezes mais que 50% mais pobre

FILA DE EMPREGO NA CIDADE DE SÃO PAULO, EM SETEMBRO DE 2019. (FOTO: ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL)

Pesquisa do IBGE revela que rendimento total dos 10% mais ricos é superior à soma dos 80% mais pobres

A desigualdade econômica no Brasil bateu recorde. É o que mostra pesquisa divulgada nesta quarta-feira 16, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A série histórica teve início em 2012.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2018, o rendimento médio mensal do 1% da classe mais rica do país foi de 27.744 reais. Já os 50% mais pobres tiveram rendimento médio de 820 reais, valor 33,8 vezes menor que os mais abastados.

A pesquisa também revela que, apesar do recorde na desigualdade, houve aumento na massa total de rendimentos no País, ou seja, o resultado da soma de todas as rendas: em 2017, o valor total foi de 264,9 bilhões de reais, e em 2018, 277,7 bilhões de reais.

Da soma total de rendas em 2018, os 10% mais ricos ficaram com 43,1% dessa quantia. Os 80% mais pobres possuem um valor menor: 41,2%. Os 10% mais pobres detiveram somente 0,8%.

➤ Leia também:



A região Sudeste apresentou a maior massa de rendimentos do País, calculada em 143,7 bilhões de reais. O número é maior que a soma dos rendimentos totais de todas as outras regiões juntas: Sul (47,7 bilhões), Nordeste (46,1 bilhões), Centro-Oeste (24,4 bilhões) e Norte (15,8 bilhões).

O estudo também registra o pior índice de Gini da renda domiciliar per capita da história do país. O indicador mede a distribuição e a concentração de renda e a desigualdade econômica. O País pode marcar entre 0 e 1. Se menor o número, menor a desigualdade. Se maior o número, maior desigualdade. Em 2018, o Brasil alcançou 0,545, enquanto em 2017, o índice foi de 0,538.

A pesquisa também aponta que a aposentadoria compõe 20,5% da renda média dos domicílios no País, enquanto 2,5% da renda vêm de aluguéis e arrendamentos, 1,2% de pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador, e outros rendimentos compõem 3,3%. A renda originária do trabalho integra 72,4% da média domiciliar.

1 em cada 3 jovens de famílias pobres nunca frequentou a escola


Observatório do 3° Setor

Por: Isabela Alves

Um em cada três adolescentes das famílias mais pobres do mundo nunca frequentou a escola. O dado é do documento ‘Addressing the learning crisis: an urgent need to better finance education for the poorest children’, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Entre os principais motivos que impedem que esses jovens tenham acesso a uma educação de qualidade apontados pelo relatório estão a pobreza, a discriminação por gênero, deficiência, origem étnica ou idioma de instrução, distância física das escolas e infraestrutura precária.

O levantamento analisou 42 países, e avaliou também as diferenças de investimento em educação dentro de famílias mais ricas e pobres. Uma criança que pertence ao grupo dos 20% mais ricos da população recebe um investimento em educação que é quase o dobro do que recebe uma criança pertencente ao grupo dos 20% mais pobres.

Dez países da África estão entre os que possuem a maior disparidade nos gastos com educação. Barbados, Dinamarca, Irlanda, Noruega e Suécia são os únicos países incluídos na análise que distribuem o financiamento da educação igualmente entre os mais ricos e os mais pobres.

O documento completo está disponível em inglês.



O enredo da Escola de Samba da Mangueira: os ultra-conservadores representam os que tramaram a condenação de Jesus. Por Leonardo Boff


Ultra-conservadores de hoje representam os que tramaram a condenação de Jesus, diz Leonardo Boff sobre ataques à Mangueira

Entrevista a Romolo Tesi

24 de janeiro de 2020 – UOL 24 de janeiro de 2020


Em mais um pré-Carnaval agitado, a Mangueira vem sendo alvo de ataques na internet por conta do enredo de 2020, sobre Jesus Cristo – “A verdade vos fará livre”. A ideia, saída da cabeça do carnavalesco Leandro Vieira, da volta de Jesus pelo Morro da Mangueira, próximo dos pobres e de minorias perseguidas, representado de diferentes formas – mulher, negro, índio e outros – incomodou segmentos cristãos mais conservadores. Até ameaça de ação na Justiça a escola já sofreu.

Para comentar o enredo, e toda repercussão, o Setor 1 ouviu o teólogo Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação, que compartilha com a Mangueira de 2020 a visão de um Jesus Cristo mais humano – menos o Jesus Glorioso, mais o amigo e defensor dos pobres.

“Essa dimensão de Jesus foi especialmente enfatizada pela Teologia da Libertação, que tem nos oprimidos e nos crucificados na história seu ponto de partida e de ação. Ela quer, como Jesus, libertar toda esta gente. Essa é a mensagem clara do enredo da Mangueira”, declara o teólogo, que critica a reação mais extremista ao trabalho de Vieira: “os ultra-conservadores de hoje representam os que tramaram a liquidação de Jesus”.

“A Mangueira, com seu enredo e sua arte, fez uma pregação melhor do que qualquer uma, de padre, de bispo ou de cardeal”, afirma.

Veja a entrevista na íntegra:

O carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, escreveu um enredo em que imagina a volta de Jesus Cristo ao mundo atual, mas renascendo na Mangueira, filho de pais pobres e vítima das mesmas mazelas que os favelados sofrem atualmente, mas sendo apresentado ao Carnaval como algo libertador em relação ao sofrimento. O que acha dessa forma de ver a figura de Jesus Cristo? Pela sinopse, é possível ver quais pontos de conexão com a Teologia da Libertação?
R: Uma vez que o Filho de Deus se fez homem e se encarnou, nunca mais abandonou a humanidade. Ele continua sempre vindo e fazendo-se presente na história, principalmente no pobre, no negro, no índio, na mulher marginalizada, nos homoafetivos, no menino e menina de rua. Sua paixão dolorosa continua até o fim dos tempos. Enquanto houver irmãos e irmãs dele sendo oprimidos e novamente crucificados, lá está ele sofrendo e sendo crucificado junto com eles. Isso é doutrina tradicional da Igreja. Não há erro nenhum naquilo que a Mangueira afirma. A questão é que a maioria dos cristãos esquece essa verdade. Vive uma fé só cultural e não de convicção. Então o samba da Mangueira expressa concreta e belamente esta venerável tradição. A Estação Primeira é a Nazaré de hoje. Jesus foi pobre bem concretizado hoje pelo “rosto negro, pelo sangue índio, pelo corpo de mulher marginalizada, “pelo moleque pelintra do Buraco Quente… é o Jesus da Gente”. Maria foi uma mulher simples do povo e assistiu com profunda dor de mãe à crucificação do Filho. Por isso ela encarna bem a “Mãe das Dores-Brasil”, pois milhões de brasileiros e de brasileiras estão sendo crucificados pela expulsão de suas casas, de suas terras, pela fome e pelas doenças. Essa dimensão de Jesus foi especialmente enfatizada pela Teologia da Libertação que tem nos oprimidos e nos crucificados na história seu ponto de partida e de ação. Ela quer como Jesus libertar toda esta gente. Essa é a mensagem clara do enredo da Mangueira. Quem não entender isso, perdeu a atualidade da mensagem da Mangueira.

A Mangueira tem sido alvo de ataques da extrema-direita e de certos segmentos cristãos depois do anúncio do enredo sobre Jesus Cristo. O instituto conservador Plinio Corrêa de Oliveira organizou um abaixo-assinado e estuda um ação na Justiça contra a escola de samba. O que acha dessa postura? Como se defender de ataques como esse?
R: Não devemos esquecer que Jesus não morreu porque caiu um caibro grosso na cabeça dele, já que era como o pai também carpinteiro, nem foi atropelado e morto por um camelo pesadão. Ele foi perseguido, caluniado e condenado à morte de cruz pelos religiosos da época, os sacerdotes, os doutores da lei, pelos piedosos como os fariseus. Os seguidores ultra-conservadores do citado por você, Plínio Corrêa de Oliveira representam hoje todos estes que tramaram a liquidação de Jesus. Condenando o enredo da Mangueira eles repetem a condenação de Jesus. A Mangueira está do lado de Jesus. Os ultra-conservadores de hoje estão do lado de Caifás, de Anás, de Judas e daqueles que gritavam:”Crucifica-o, crucifica-o”. Se houver algum processo, que seja feito contra estes ultra-conservadores que desconhecem a real fé cristã e por ofenderem a Jesus nos humilhados e ofendidos de nossa história atual.

Mangueira 2020

Tanto a sinopse quanto o samba da Mangueira dizem que Jesus são muitos. A sinopse tem o seguinte trecho: “Na cruz, ele é homem e é também mulher. Ele é o corpo indígena nu que a igreja viu tanto pecado e nenhuma humanidade. Ele é a ialorixá que professa a fé apedrejada e vilipendiada. Ele é corpo franzino e sujo do menor que você teme no momento em que ele lhe estende a mão nas calçadas. Na cruz, ele é também a pele preta de cabelo crespo. Queiram ou não queiram, o corpo andrógino que te causa estranheza, também é a extensão de seu corpo”. Essa forma de retratar Jesus tem causado reações mais irritadas e causado polêmica. Por que isso acontece? E o que acha dessa visão de Jesus, mais humano?
R: A sinopse é verdadeira, pois Jesus são de fato muitos, isto é, todos os que tiveram e estão tendo o mesmo destino de Jesus: os oprimidos pelos latifundiários, os explorados pelos patrões, as mulheres violentadas, as crianças estupradas, os LGBT discriminados. Todos estes atualizam a paixão de Jesus. Tem mais. Jesus como homem representa toda a humanidade, masculina e feminina. A Igreja ensina que Jesus assumiu tudo o que é humano. Se não tivesse assumido todo o humano, não teria sido o salvador e libertador de todos. Em outras palavras: se não tivesse assumido o lado feminino não teria redimido as mulheres que são mais da metade da humanidade. Sabemos hoje que em cada pessoa há a dimensão masculina (o animus) e simultaneamente a dimensão feminina (a anima). Todos sem exceção possuem estes dois lados. Por que estas duas dimensões, masculina e feminina, não estariam presentes também em Jesus? Lógico que estão, pois caso contrário, não seria plenamente humano.

Historicamente, o cristianismo e o Carnaval das escolas de samba sempre tiveram uma relação turbulenta. Há casos famosos, como o Cristo mendigo da Beija-Flor, em 1989, que desfilou coberto por força de ordem judicial. No entanto, nos últimos anos, houve alguma aproximação da igreja católica, que prefere acompanhar o desenvolvimento de enredos do que partir para o confronto. Como vê essa mudança? Acha que o samba pode servir para aproximar Jesus das pessoas?
R: Há uma parte da Igreja que prefere ver apenas o Jesus glorioso, o Rei do Universo, Jesus Deus que toca o mundo pecador apenas com a fímbria de seu manto. Essa visão é reducionista. Ele é Rei sim mas com coroa de espinhos e não de ouro e de joias, é Deus sim, mas um Deus encarnado em nossa miséria, que tem fome e sede, que se alegra e que chora pela morte de seu amigo Lázaro. A primeira visão é adulçorada e contrária â história narrada pelos evangelhos. Estes mostram um Jesus homem como nós que abraça as crianças, que se compadece dos doentes, que multiplica pães e peixes para atender um povo faminto, um Jesus que é amigo de duas mulheres queridas, Marta e Maria, que se irrita porque se fazem negócios dentro do lugar sagrado, derruba as mesas com as moedas e toma o chicote e escorraça esses vendilhões. Ele é plenamente humano em cada uma destas situações. Mas principalmente foi aquele que a Mangueira bem canta que “enxuga o suor de quem desce e sobre a ladeira, que vive um amor sem fronteiras, que se coloca na fileira contra a opressão”. Esse é o Jesus verdadeiro, aquele que é solidário, que suscita esperança “que brilha mais que a escuridão”. A Mangueira deixa uma mensagem importantíssima que vale para o mundo atual, tirada do projeto de Jesus: “Não tem futuro sem partilha”. A humanidade inteira está mal porque os ricos não partilham. 1% possui a riqueza dos 99% seguintes. Só os pobres partilham o pouco que têm. E dá uma indireta clara e bem merecida ao atual governante:” Não há Messias de arma na mão”. O enredo termina com o que é mais importante na fé cristã: O domingo da ressurreição. Diz isso poeticamente: “Num domingo verde-e-rosa ressurgi pro cordão da liberdade”. Liberdade e amor são os bens mais preciosos que temos. Para confirmar isso, Cristo ressuscitou. A Mangueira, com seu enredo e sua arte, fez uma pregação melhor do que qualquer uma, de padre, de bispo ou de cardeal. A Mangueira está na linha do Papa Francisco que repete: Jesus veio para nos ensinar a viver, o amor, a solidariedade, a esperança e o gesto de ternura.

Como o senhor pretende acompanhar a Mangueira?
R: Dizem por ai que gostariam que eu desfilasse na Escola da Mangueira. Seria uma espécie também de homenagem à Teologia da Libertação, subjacente no enredo. Eu penso assim: cada um deve conhecer o seu lugar. Acho que o lugar do teólogo, por mais que apoie os pobres, o povo e reconheça o alto valor do enredo da Mangueira, não é no desfile da escola mas, no máximo, na plateia no meio do povo, desfrutando da beleza e aplaudindo. Assisti da plateia a muitos carnavais. Agora no tramontar da vida e com alguns achaques, meu lugar é apoiar a Mangueira e felicitá-la por esse belo, profundo e verdadeiro enredo, dentro do melhor da fé cristã, fé radicalmente humana, fé libertadora.

Encontro dos Povos Mebengokrê e das Lideranças indígenas do Brasil



Por quatro dias, a aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto Jarina (MT), tornou-se o centro do mundo para 45 povos indígenas. Cerca de 600 lideranças indígenas protagonizaram um evento inédito em todo o país, o Encontro dos Povos Mebengokrê. No final do encontro, após quatro dias e muitos debates, os povos indígenas deram um exemplo a todo Brasil durante a construção do documento “Manifesto do Piaraçu das lideranças indígenas e caciques do Brasil”.

O encontro foi idealizado pelo líder Kayapó Raoni, ou Raoni Metukire, em seu idioma materno, que mesmo com quase noventa anos, insiste em convencer os homens a repensarem a ocupação do planeta. “Não vou desistir, vou continuar até quando o meu corpo resistir. Se o homem branco insistir em cortar floresta, fazer barragem em rio, garimpo e destruir tudo, vou continuar aqui, lutando”, diz ele, durante entrevista exclusiva à agência Amazônia Real. Raoni responde às indagações da reportagem com uma resolução que por trás de sua pintura tradicional camufla o peso da idade.

Os olhos lacrimejam, não há mais a agilidade do guerreiro alto e esguio que começou a lutar pelo povo Kayapó nos anos de 1970, mas a sua determinação causa espanto. O líder permaneceu até o último momento de votação do documento, que envolveu discussões sobre os direitos das mulheres, o respeito aos jovens e, principalmente, como os povos indígenas vão enfrentar um grande desafio: as políticas anti-indígenas do atual governo brasileiro.

Os povos da floresta representados pela filha do líder seringueiro e ambientalista Chico Mendes (1944-1988), Angela Mendes, que atua na coordenação do Comitê Chico Mendes, também participaram das discussões do documento.

“Desde o ano passado percebemos que precisávamos nos unir, pois os tempos atuais pedem que estejamos todos juntos. Temos um governo literalmente fascista”, afirmou Angela, muito emocionada, após reencenar um momento protagonizado por seu o pai nos anos de 1980 ao se reunir com povos indígenas para firmar uma aliança dos Povos da Floresta.

O encontro na terra indígena Kayapó foi um sucesso. Eram esperadas 450 pessoas, mas o evento reuniu 600 participantes. Alguns convidados – e mais de 200 visitantes extras, bem recebidos -, viajaram por até cinco dias, dormiram em barracas, redes e em alojamentos improvisados para atender o chamado de Raoni. A grande maioria das pessoas era indígenas, somados a jornalistas nacionais e internacionais, e amigos de longa data do cacique.

O clima era de alegria, com os representantes de 45 povos vestidos com as cores de suas culturas originais

A reunião final, no centro da aldeia, com todas as lideranças e seus representantes que participaram da luta pela inclusão dos direitos indígenas na Constituição Federal de 1988, foi um dos momentos mais emocionantes.

As discussões do evento apontaram o governo do presidente Jair Bolsonaro como um dos principais inimigos dos povos indígenas hoje.


VEJA UM VÍDEO EMOCIONANTE  

CONFIRA FOTOS DO ENCONTRO 

Articulação dos Povos Indígenas aciona PGR contra Bolsonaro por crime de racismo

Foto: Reprodução/APIB
Brasil de Fato | São Paulo (SP)
,