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sábado, 22 de junho de 2019

A marcha que não é para Jesus


Por Libânio Neto

No último dia 20 de junho, foi realizada em São Paulo mais uma edição da chamada "marcha para Jesus", que contou com a presença de Bolsonaro, o qual além de defender seu projeto de liberação das armas e proferir uma série de bobagens, fez gesto de arminha
simulando a execução de alguém caído, numa expressão que mostra que não há nada mais anticristão do que atirar em alguém caído. Assim agem os covardes, bandidos e milicianos, que executam suas vítimas com requintes de crueldade.

Más, isso não é nenhuma novidade. Basta vermos como foram seus discursos ao longo de sua carreira política e como se "elegeu" para a presidência, amparado numa rede de mentiras, e na alimentação do racismo, preconceitos, machismo, homofobia, além de uma pregação de violência e morte.

Também não é de estranhar porque o acolhem em dita "marcha", a qual é organizada por um casal de "pastores" Sônia e Estevam Hernandes fundadores da igreja Renascer, que já foram condenados por corrupção e lavagem de dinheiro.

Junto a esses exemplares "bispos" já passaram pela famosa "marcha" outros "pastores" corruptos, enganadores e pilantras, tais como: Silas Malafaia, Valdemiro Santiago, Marcos Feliciano, Magno Malta, entre outros.

"Pastores" milionários que sorriem ao lado do que representa o mal, guiando "rebanhos" de pobres ou remediados, que se permitem por conveniência ou ignorância (em grande maioria) serem manipulados e conduzidos.

Esses ditos pastores, transformaram a fé, num grande empreendimento financeiro e usam o nome de Deus e de Jesus, como mercadoria para promover seus enriquecimentos ilícitos, tudo isto disfarçados por uma pregação de falsa moralidade, de "defesa da família" e dos "valores cristãos".

Eles, que dizem conhecer a Bíblia, certamente, não acreditam no que leem, pois devem saber o que Pedro escreveu, dois mil anos atrás:

Muitos seguirão seus falsos ensinos e práticas libertinas, e por causa dessas pessoas, haverá difamação contra o Caminho da Verdade. Movidos por sórdida ganância, tais mestres os explorarão com suas lendas e artimanhas. Todavia, sua condenação desde há muito tempo paira sobre eles, e sua destruição já está em processo. 

Congo: Como 6 milhões de mortes podem ser colocadas sob o silêncio da mídia?


O genocídio está em andamento, mais de 6 milhões de pessoas (metade delas com menos de 5 anos!) Foram massacradas em geral com indiferença e com o apoio dos Estados Unidos e da Europa! Centenas de milhares de mulheres e meninas foram estupradas e mutiladas pelos exércitos de ocupação. E tudo isso por uma razão principal: para aproveitar a riqueza mineral excepcional que esconde o porão do país ...

Conhecemos o método, amplificamos algumas novidades e escondemos outras igualmente horríveis. Fala-se muito sobre a crise dos migrantes e o Oriente Médio no momento, com a luta contra o terrorismo (?), Uma luta bastante preocupante com a entrada da Rússia , convocada por al Assad, que não fará de renda, alvejando (todos?) os oponentes do presidente sírio. Enquanto isso, estamos deliberadamente ofuscando o que está acontecendo no Congo, ainda assim, livres para mover as pessoas boas rapidamente para chorar sobre o destino dos migrantes pobres, devemos manter algumas lágrimas por um genocídio em andamento, sobre o qual não vamos falar em sua mídia favorita, que parecem fazer lamentações seletivas.

Um genocídio do qual nossos líderes e a comunidade internacional foram cúmplices

No coração da África, o Congo é um país rico, cheio de matérias-primas (diamantes, ouro, estanho, gás, petróleo, urânio, coltan ...), florestas, água, mulheres e homens, de uma multidão de tribos reunidas sob uma nação atraída pelos colonos, e que historicamente não corresponde muito. Após o genocídio em Ruanda, os países vizinhos também se beneficiaram da imprecisão política e institucional no Congo (na fronteira com Ruanda) para atacar de todos os lados este enorme país repleto de tesouros.

E os ocidentais em tudo isso? A culpa dos líderes americanos e europeus pelo genocídio em Ruanda levou-os a seguir uma política pró-Ruanda, deixando os rebeldes ruandeses do lado congolês livres para fazer o que quisessem, ajudados pelos aliados ugandenses e burundeses. 

Mas acima de tudo, os muitos recursos naturais na RDC são vitais para as economias ocidentais, especialmente para os setores automotivo, aeronáutico, espacial, de alta tecnologia e eletrônica, jóias ... especialmente o Coltan (que o Congo tem pelo menos 60 % de recursos globais) é essencial na fabricação de componentes eletrônicos encontrados em TVs, computadores, smartphones, mas também algumas armas como mísseis! A RDC também está sofrendo com o desmatamento maciço. Os principais importadores? EUA, Europa, China. Não é de admirar.

Mas como a invasão da guerra parece interna à África, ninguém pode acusar os EUA e outras potências ocidentais de aproveitar os recursos e a riqueza do Congo intervindo diretamente. Não, é ainda mais conveniente deixar as pessoas descerem entre elas. Enquanto isso, os EUA apóiam sucessivas ditaduras no Congo e nas milícias ruandesas e ugandenses. Merry.

Pobreza sustentada e condições de vida desproporcionais, estupros incessantes (e uma taxa de AIDS de até 20% da população nas províncias do leste), deslocamentos populacionais, indignações, epidemias ...: uma estratégia de desumanização está em vigor fazer as vítimas desamparadas, uma situação terrível em que não há palavras duras o suficiente.

                       

Enquanto a opinião pública abdica, o congolês continua sendo o negro? da África? Baloji, tudo isso não vai fazer você Congo

Os líderes ocidentais estão tão sedentos por riquezas que permitem um novo genocídio? Sim, a ponto de permitir perpetrar e até mesmo cobrir um novo genocídio. Com armas, treinamento militar de nossas elites. Uma coisa: o que acontece no Congo, questões políticas e econômicas para o genocídio, não é determinado apenas pelos congoleses, mas também pelos poderes carnívoros, famintos por riqueza e sem consideração pelo povo.

A situação no Congo será resolvida pelos próprios congoleses. Mas a comunidade internacional deve parar urgentemente de apoiar os ruandeses, os ugandenses e todas as milícias que perpetuam este insuportável estado de guerra, permitindo-lhes pôr as mãos na riqueza de um país sem ter de responsabilizar ninguém.

6 milhões de mortos. Metade dos quais são crianças pequenas. O mundo diz que é grátis? - nós - devemos imperativamente olhar no rosto o que é sua liberdade? deixe ir. Por que tanta violência e tão pouco barulho da mídia?

É desinteressante para os europeus? Não é este sensacional o suficiente, este massacre que conta em milhões de pessoas? É muito longe de casa, eles aplicam mais uma vez esta lei odiosa da proximidade? ? Por que nenhuma reação, nenhum impacto no imaginário coletivo, sem indignação, sem raiva, sem emoção?

Nosso dever como cidadãos do mundo é, portanto, transmitir a mensagem. Deixe o mundo saber. Antes que o mundo se mova. Há culpados na Europa como existem na África. O silêncio dos poderosos mata tanto quanto o som das metralhadoras. Deixe todos os assassinos encararem suas responsabilidades.
Conflito no Congo: a verdade desvelada

Relatório de 26 minutos sobre a situação no Congo. Cuidado, este documentário contém imagens difíceis de suportar.

40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas, diz pesquisa recente



A violência doméstica é uma triste realidade no Brasil e uma pesquisa descobriu uma informação ainda mais alarmante: 40% das mulheres que se declaram vítimas de agressões físicas e verbais de seus maridos são evangélicas.

A descoberta é resultado de uma pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie a partir de relatos colhidos por organizações não governamentais (ONGs) que trabalham no apoio às vítimas desse tipo de violência.

“Não esperávamos encontrar, no nosso campo de pesquisa, quase 40% das atendidas declarando-se evangélicas”, diz um trecho do relatório divulgado, de acordo com informações da Rede Super.

A surpresa não é maior do que a preocupação que existe sobre o contexto das agressões: muitas das vítimas dizem sentirem-se coagidas por seus líderes religiosos a não denunciarem seus maridos.

“A violência do agressor é combatida pelo ‘poder’ da oração. As ‘fraquezas’ de seus maridos são entendidas como ‘investidas do demônio’, então a denúncia de seus companheiros agressores as leva a sentir culpa por, no seu modo de entender, estarem traindo seu pastor, sua igreja e o próprio Deus”, denuncia o documento.

Os responsáveis pelo estudo ressaltam, no relatório, que as comunidades de fé onde essas mulheres que sofrem violência congregam precisam agir de maneira diferente: “O que era um dever, o da denúncia, para fazer uso de seu direito de não sofrer violência, passa a ser entendido como uma fraqueza, ou falta de fé na provisão e promessa divina de conversão/transformação de seu cônjuge”, constatam.

No programa De Tudo Um Pouco, da Rede Super, o pastor Renato Vieira Matildes e o advogado Antônio Cintra Schmidt analisaram os dados dessa pesquisa.

De acordo com Matildes, a omissão dos pastores é parte importante nos casos de violência doméstica: “A gente percebe a omissão pela falta de orientação e pela omissão mesmo de não querer informar. Porque é mais fácil virar e dizer: ‘Olha, vá embora que nós vamos orar e Deus vai fazer a obra’”, disse.

O pastor ponderou que a ação espiritual é válida, mas é necessário tomar medidas que garantam a segurança dessas mulheres: “Deus realmente continua fazendo a sua obra. Porém é mais difícil a gente instruir essas pessoas. É difícil você sentar com um casal e sentar com eles uma noite, um dia. Essas são questões difíceis de lidar e as pessoas não querem fazer isso e caminham para o lado mais fácil […] Isso não pode ser assim e não deve ser assim”, acrescentou.

Para o advogado Schmidt, a igreja pode ter condições de ajudar a mulher que se encontra nesta situação de forma mais efetiva: “Seria muito interessante se as igrejas tivessem esse acompanhamento e esse grupo para ajudar na conscientização da mulher”, comentou. “A mulher tem um receio tremendo por todos esses fatos, de fazer uma denúncia, de expor a convivência familiar dela e em qualquer nível. Acontece que às vezes não é ela quem expõe. O vizinho, por exemplo, vê uma agressão e pode fazer a denúncia. E feita a denúncia, a Polícia vem e dali para frente não tem mais como parar o processo”, explicou.

A Opção Pelos Pobres e o Subversivo de Nazaré


por Marcos Aurélio dos Santos*

A missão libertadora de Jesus começou a partir dos pobres e com os pobres, entre os excluídos, assim nos conta o evangelista Lucas. Foi em uma tarde de Sábado, em uma pequena sinagoga, na aldeia chamada Nazaré que Jesus leu o texto do profeta Isaias que dizia: “O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos.

A pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. ” (Lucas 4:18,19). O texto profético de Isaias falava dele mesmo, do Deus pobre, do Messias libertador, do Homem subversivo de Nazaré, de sua missão entre os pobres e excluídos de seu tempo. Como não poderia ser diferente, a leitura do texto apresentando-o como o libertador que faz opção pelos pobres, causou ódio, ira e indignação dos religiosos fundamentalistas que queriam matá-lo. Planejaram jogá-lo no precipício, contudo Jesus conseguiu escapar (Lucas 4: 29-30).

Jesus segue um caminho diferente, em oposição às lideranças do sistema religioso da judeia. O grupo político-religioso mantinha o povo sob opressão, impondo-lhes com rigor o cumprimento da lei, desprezando o amor e a solidariedade, rejeitando o espírito comunitário, a compaixão e a misericórdia (Mateus 23: 23). Como representantes da cadeira de Moisés, Escribas e Fariseus protagonizavam o grupo de fundamentalistas reacionários, que a partir de uma leitura literal dos livros da lei, em forma de imposição opressiva, tornavam o cumprimento das leis judaicas um fardo impossível de carregar. Estes recebem a crítica de Jesus quanto às suas contradições. Pregam, mas não fazem, são alienados e hipócritas que buscam os holofotes da sociedade, amam os primeiros lugares nas mesas e cadeiras do poder (Mateus 23: 1-6).

Jesus prefere seguir o caminho que o Pai lhe confiou, um caminho de amor, humildade e libertação. Jesus chama seus discípulos e discípulas para juntar-se a Ele e aprender sobre uma espiritualidade subversiva e utópica, pautada na esperança, na fé por um mundo amoroso e fraterno. Jesus vem para desconstruir o velho jugo da opressão religiosa, de uma espiritualidade opressora, que apresentava um “deus” vingativo, amedrontador, autoritário e cheio de ódio, excludente e individualista.

Em contraponto, Jesus anuncia um Deus de misericórdia, um novo caminho, na trilha do Evangelho das boas novas de alegria, vida plena e abundante, o Evangelho da liberdade. Um novo tempo, uma nova maneira de aprender sobre a vida, com mansidão e humildade de coração, pois seu fardo tem a leveza das andorinhas e a mansidão dos cordeirinhos. Jesus é alívio para os cansados (Mateus 11: 29).

Para os religiosos fundamentalistas, Jesus era um insignificante da desprezada cidade de Nazaré, que perambulava pelas periferias da Galileia pervertendo o povo, pregando heresias e afrontando o estado. Contudo um insignificante em potencial, que provocava a ira dos poderosos, pois era uma ameaça para o império e para o templo, por isso decidiram assassiná-lo. A elite judaica não acreditava que o movimento de Jesus com os pobres fosse adiante, ignoraram o poder libertador do Evangelho e a força das comunidades pobres. Confiavam na força do império e nas articulações perversas dos religiosos de Jerusalém liderada pelo sumo sacerdote Caifás para exterminar o movimento. O plano de exterminação falhou!

A ressurreição de Jesus venceu o sistema e a partir dos pobres, o amor de Jesus se espalhou pelo mundo e atravessou a história. Foram as pequenas comunidades periféricas que estavam nas partes baixas da Judeia que deram seguimento ao movimento de Jesus, isto debaixo de forte perseguição por parte dos poderes dominantes da época. Foi por meio das comunidades pobres que o evangelho foi pregado e chegou até nós nos dias de hoje.

Por isso, não há como compreender a profundidade do Evangelho, como também vivê-lo de forma concreta, sem um encontro com o pobre. É possível falar sobre o pobre e o estado de pobreza em que vivem, e buscar meios para ajudá-lo, aliás, muitos fazem isso. Contudo se não enxergarmos Jesus no rosto do pobre, nossa missão desvia-se do caminho de libertação, nos levando para o caminho da esfera religiosa, comprometida com os ricos, com a opressão e exclusão dos mais fracos, nos afastando do movimento libertador do subversivo de Nazaré, que iniciou a evangelização com os pobres, anunciando as boas novas de libertação (Mateus 11: 15).

Onde encontrar o Cristo hoje?

Estaria Ele assentado nas primeiras cadeiras do templo rodeado de bajuladores? Ou assentado à mesa com os principais religiosos aceitando os conchavos? Ou ainda entre os poderes opressores do Estado que esmaga os pobres? Jesus está nas favelas, nas periferias, no campo, nas fábricas entre os trabalhadores e trabalhadoras, entre os que sofrem nas filas dos postos de saúde, entre os que moram debaixo de viadutos, entre os que dormem em calçadas nos grandes centos urbanos, entre os LGBT’s vítimas de perseguição, violência e morte, entre as mulheres, vítimas de violência e feminicídio. Estes são os amigos e amigas de Jesus. Quem são nossos amigos? Onde encontrar o Jesus de Nazaré? Ele está no rosto do pobre.

– Partilha do autor, Marcos Aurélio dos Santos.

Publicado no site do CEBI - Centro de Estudos Bíblicos

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Celebrar o corpo de Cristo. Marcelo Barros.


Nós não temos direito de honrar o corpo de Cristo na eucaristia, se não o honramos e cuidamos dele na pessoa dos pobres e dos necessitados que estão em nossas ruas e nas calçadas em frente às nossas casas…

Dom Hélder Câmara
20 de junho de 2019 by Leoni Alves Garcia

PUBLICADO NO SITE: CEB's DO BRASIL



Nesta quinta-feira 20, a Igreja Católica celebrou a festa do Corpo e Sangue de Cristo. Muita gente conhece essa festa pela expressão latina Corpus Christi ou pelo modo como a tradição portuguesa espalhou pelo Brasil: festa do Corpo de Deus. Muitos de nós lembramos das procissões do Santíssimo Sacramento. Até hoje há locais nos quais ainda se ornamentam as ruas com enfeites de flores e tapetes pintados artisticamente para a procissão. Em décadas mais recentes, em algumas capitais, a procissão pelas ruas foi substituída por uma grande concentração de católicos em algum estádio ou ginásio de esportes, onde o bispo ou pároco celebra a eucaristia.

Essa festa foi iniciada em 1264 quando o papa Urbano IV mandou que toda a Igreja celebrasse esse dia para adorar a presença real de Jesus na eucaristia – Segundo a tradição, Jesus teria aparecido a uma jovem – Santa Juliana de Liège e pedido que se instituísse essa festa com três finalidades:
1 – aumentar a fé das pessoas na presença de Jesus na eucaristia,
2 – prosperar na prática das virtudes
3 – reparar as ofensas feitas ao Santíssimo Sacramento.

Os padres da época explicavam que as ofensas ao Santíssimo eram comungar sem estar em estado de graça, participar da eucaristia sem dar a devida importância ao mistério, etc…
Na época em que a festa foi fundada, a compreensão da missa na Igreja Católica insistia na repetição do sacrifício de Jesus no Calvário, oferecido ao Pai pela salvação do mundo. A devoção eucarística consistia em adorar a hóstia consagrada como sendo a presença quase física do próprio Jesus. Pouco antes da instituição da festa, na cidade de Orvietto, na Itália, conta-se que um padre estava celebrando a missa e dizem que ele duvidava da presença de Jesus na hóstia. De repente, depois da consagração, a hóstia começou a sangrar e o sangue ensopou a toalha e os panos do altar. Até hoje, na catedral de Orvietto se encontram como relíquia os panos que teriam sido embebidos de sangue.

Atualmente, vivemos em outra época e temos outra cultura. Já há mais de 50 anos, o Concílio Vaticano II nos ensinou que a eucaristia não existe em primeiro lugar para a gente adorar o Cristo (podemos sim adorar, é claro) mas o mais importante é nos unir a ele (comungar) em uma comunhão que é comunitária e significa partilha de vida e de missão. Na Idade Média, a compreensão da fé e da devoção era absolutamente privada, individual. O importante era a pessoa crer na presença real e adorar. O evangelho insiste mais na relação comunitária e no gesto de comer e beber.

No século IV, Santo Agostinho ensinava aos novos batizados na noite de Páscoa: “O que vocês veem no altar, o pão e o vinho são sinais (sacramentos) do que nós somos. Nós é que somos o Corpo de Cristo. E o pão e o vinho consagrados representam o que nós somos. Quando vocês vierem comungar e o celebrante disser a cada um: Corpo de Cristo. Vocês respondem Amém ao que vocês são. Vocês são o Corpo de Cristo e o pão é corpo de Cristo para que vocês se comportem como corpo de Cristo. Respondam Amém ao que vocês são: Corpo de Cristo” (Sermão 207).

Atualmente, qual o desafio que enfrentamos para celebrar a festa de Corpus Christi mais de acordo com o evangelho?
1 – Não podemos pensar a festa nem a fé como se fôssemos a única Igreja cristã e pouco nos importasse o que pensam as outras. Temos de pensar a eucaristia de forma ecumênica e inclusiva e não daquela forma medieval de impor a nossa fé aos outros, sair com o Santíssimo na rua para mostrar que nós cremos, etc…
2 – Temos de trabalhar mais essa relação entre reconhecer a presença de Jesus no sacramento mas saber que o primeiro sacramento eucarístico é a nossa Igreja local, a nossa comunidade. O corpo de Cristo somos nós. Em cada missa, depois de lembrar as palavras de Jesus na ceia, o celebrante diz: Eis o mistério da fé! Esse mistério da fé é o pão e o vinho, mas é principalmente a comunidade ali reunida para celebrar e que em cada eucaristia se torna verdadeiramente Corpo de Cristo…

Em relação a isso, vivo alguns anseios e sofro pessoalmente. O primeiro anseio que, em mim é como uma angústia que se torna oração: peço a Deus que a nossa eucaristia possa voltar a ser celebrada como Ceia do Senhor, como momento de partilha e de festa na comunidade – como ceia de amor, carinho, relação de solidariedade e não como um culto por demais hierárquico, celebrado em uma forma ainda muito clerical e pouco comunitária e ainda insistindo na visão sacrificial. Embora ninguém mais pregue assim, quando falamos em sacrifício, parecemos dizer ao mundo que cremos em um Deus cruel que para perdoar os homens precisava que o seu próprio Filho morresse na cruz e que cada missa renovasse esse sacrifício para o mundo ser salvo. Isso é um absurdo… na forma de falar de Deus.

O segundo sofrimento é ver nos evangelhos que toda refeição de Jesus foi inclusiva. Jesus sempre ceou com os pecadores e gente excluída. A sua última ceia foi tão inclusiva que até o traidor Judas antes de sair no meio da ceia recebeu de Jesus o pão molhado que era dado (na ceia judaica) como sinal de carinho privilegiado. Ao contrário disso, apesar de todos os esforços do papa Francisco, ainda predomina em nossa Igreja uma espécie de apartheid eucarístico – protestante não pode comungar – gente divorciada ou que vive uma vida moral considerada pela Igreja como irregular não pode comungar e assim por diante… E Jesus disse claramente: Eu vim não para os justos e sim para os pecadores.

Então, nessa festa de Corpus Christi, me lembro de Dom Helder Camara que, retomava uma palavra de São João Crisóstomo no século IV e dizia: Nós não temos direito de honrar o corpo de Cristo na eucaristia, se não o honramos e cuidamos dele na pessoa dos pobres e dos necessitados que estão em nossas ruas e nas calçadas em frente às nossas casas…
A eucaristia existe para que lutemos por “Pão em todas as mesas, da Páscoa nova a certeza: A festa haverá e o povo a cantar: Aleluia”.