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sábado, 21 de dezembro de 2019

Brasil da fome: 17 pessoas morrem de desnutrição todos os dias no país


MARIA FERNANDA GARCIA 

Observatório do 3° Setor

Os dados incluem óbitos relacionados aos quadros de desnutrição proteico-calórica leve, moderada e grave

Em todo o mundo, 821,6 milhões de pessoas passaram fome no ano passado. Em 2017, eram 811 milhões de pessoas nesta situação. Os dados são do documento ‘Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo’.

Com um em cada quatro brasileiros vivendo na pobreza e 13,5 milhões de pessoas vivendo na extrema pobreza, a fome faz parte da vida dos brasileiros.

De acordo com dados do Datasus, entre 2008 e 2017, ano dos últimos dados consolidados, o Brasil registrou 63.712 óbitos por complicações decorrentes da desnutrição. Isso representa uma média de 6.371 mortes por ano e 17 mortes por dia. O levantamento foi realizado pelo jornal Estadão.

Os dados incluem óbitos relacionados aos quadros de desnutrição proteico-calórica leve, moderada e grave e a condições mais raras, porém ainda existentes no Brasil, como kwashiorkor (desnutrição provocada pela ingestão inadequada de proteínas) e marasmo nutricional (condição na qual a falta de calorias leva a uma importante perda muscular e atrofia de alguns órgãos).

Nos últimos dois casos, a falta de nutrientes faz com que os doentes, apesar da magreza, apresentem um inchaço abdominal significativo porque, sem proteínas, o corpo não consegue fazer o transporte devido dos líquidos. É o quadro frequentemente apresentado por crianças em regiões de miséria extrema da África.

Número de mortes de lideranças indígenas em 2019 é o maior em 11 anos




Dados da Comissão Pastoral da Terra apontam o registro de 7 mortes de lideranças indígenas este ano, contra 2 mortes em 2018

Por: Mariana Lima

De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o número de lideranças indígenas mortas devido a conflitos no campo em 2019 foi o maior registrado nos últimos 11 anos.

Ao todo, foram 7 mortes registradas este ano, contra 2 observadas em 2018. Os dados divulgados são preliminares, já que o balanço final só será realizado em abril de 2020.

No início do mês de dezembro, três ativistas indígenas foram mortos no Brasil. Duas das mortes ocorreram no Maranhão, em Jenipapo dos Vieiras, em consequência de um atentato que ainda deixou dois feridos.

A terceira morte ocorreu em Manaus (AM), onde o ativista da etnia Tuyuca Humberto Peixoto Lemos foi agredido a pauladas.

Ao todo, 27 pessoas já morreram esse ano devido a conflitos de terra. O número deve ser semelhante ao registrado em 2018, com 28 mortes. Este ano, o grupo de lideranças indígenas foi o que teve o maior número de mortes.

Os dados da CPT levam em consideração apenas os assassinatos ligados a conflitos pela terra. As informações são enviadas pelas pastorais de cada região.

Além do registro da morte de lideranças, o levantamento também contabiliza as mortes de indígenas que não eram líderes de suas comunidades.

Um relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) já apontava a tendência no aumento da violência contra a população indígena em 2018.

O relatório aponta o crescimento de 20% no número de assassinatos de indígenas em comparação com o levantamento anterior. Em 2018, foram registradas 135 mortes, enquanto em 2017 foram 110 casos.

Fonte: G1

Fotos raras que mostram o cotidiano dos Panteras Negras



Stephen Shames foi o fotógrafo oficial do Partido dos Panteras Negras, que era considerado pelo FBI "a maior ameça à segurança interna dos EUA".

Por Maxime Delcourt; Traduzido por Marina Schnoor
16 Outubro 2018, Publicado pelo Site Vice - Brasil

FOTOS: STEPHEN SHAMES CORTESIA DA STEVEN KASHER GALLERY

Era 1967. Stephen Shames tinha apenas 20 anos quando conheceu Bobby Seale, o fundador dos Panteras Negras, que pediu a ele para documentar as atividades diárias do movimento e o apresentou a seus membros mais influentes: Huey P. Newton, Angela Davis, Kathleen e Eldridge Cleaver, Fred Hampton e Stokely Carmichael. Por sete anos, Shames foi o fotógrafo oficial da organização política. Diferente de outros fotógrafos que também documentaram os Panteras — como Ruth-Marion Baruch ou Pirkle Jones — Shames conseguiu mergulhar na intimidade do que era considerado pelo diretor do FBI na época, John Edgar Hoover, “a maior ameça à segurança interna dos EUA”. Agora as fotografias de Shames estão em exposição em Lille como parte do evento Power to The People na Maison Folie de Moulins, em Paris. A i-D França se encontrou com ele para discutir resistência, a importância de registros fotográficos e a mãe de 2Pac.

                                       

i-D: Como você entrou em contato com os Panteras Negras?
Em abril de 1967, aconteceu uma marcha contra a Guerra do Vietnã. Como estudante da UC Berkeley, fui até a marcha e conheci Bobby Seale. Ele gostou das fotos que tirei naquele dia, nos tornamos amigos, e aí ele me permitiu passar mais tempo com os Panteras Negras. Ele foi como um mentor para mim, por assim dizer. Ele era o líder da organização na época, então me apresentou a todo mundo. Eu não percebia necessariamente, mas, na época, eu era a única pessoa de fora do partido que teve permissão para entrar no mundo deles. Claro, hoje qualquer um pode colocar as mãos em documentos públicos apresentando os Panteras num contexto de manifestações ou algo assim, mas na época, ninguém tinha acesso às vidas íntimas dos vários membros da organização. Por sete anos, passei a maior parte do meu tempo documentando os Panteras, imortalizando seus cotidianos, como eles se comportavam com as esposas e filhos quando chegavam em casa.
                                            

Você sentia que estava experimentando algo histórico, ou só queria tirar fotos de pessoas com quem você se importava?
Quero deixar claro que eu tinha acabado de fazer 20 anos quando encontrei o Partido dos Panteras Negras, então eu não tinha um objetivo específico e não era inteligente o suficiente para pensar na minha abordagem de maneira mais intelectual. A ideia era principalmente ser só parte do movimento. Eu não achava que essas fotos seriam expostas em museus um dia... Eu pensava em mim como um revolucionário cujo objetivo era mostrar os Panteras Negras de dentro, não simplesmente documentando suas lutas ou a intenção de pegar em armas. Na época, como ainda é o caso hoje, quase toda a mídia se focava nesse aspecto e buscava sistematicamente a polêmica. Mas diferente deles, eu queria fotografar o que estava acontecendo no dia a dia, revelar o que acontecia nos bastidores, e fornecer o retrato mais completo dos Panteras. Eles com certeza eram revolucionários muito comprometidos, mas isso não os tornava menos pessoas reais, e eles viviam sua vida em família como todo mundo.

Qual era o interesse dos Panteras em te deixar fotografar o cotidiano ou as reuniões deles?
Os Panteras não eram um grupo de protesto, mas um partido político que se tornou consciente de que os EUA é um mundo onde tudo depende da comunicação. Eles entendiam que sua imagem era essencial para sua reputação e para a promoção de suas ideias. Em retrospecto, percebi que isso iluminava a natureza vanguardista do Partido. Na época, eles organizavam grandes reuniões para distribuir comida, fornecendo uma grande quantidade de alimentos de qualidade para famílias e crianças. Isso era parte dos princípios básicos deles, eles acreditavam que você não podia estudar de estômago vazio... É interessante apontar que quando o presidente Johnson finalmente implementou o mesmo programa que os Panteras já faziam, os alimentos distribuídos pela agência do governo eram de qualidade muito mais baixa, e algumas pessoas até comparavam o queijo com papelão branco.
                            

Você mencionou o retrato prejudicial da mídia do Partido dos Panteras Negras. E quanto ao FBI, que tentou basicamente destruir a organização?
Não quero usar a carta do racismo, mas está claro que foi feito de tudo para apresentar uma imagem negativa dos Panteras, os retratando como um grupo violento, potencialmente perigoso para o bem-estar da sociedade. Também é óbvio que a imagem de um homem negro armado sempre chocou mais o público que a de um homem branco fazendo a mesma coisa. O mais bizarro é que os Panteras só exigiam uma coisa — igualdade. E para conseguir isso, eles levantavam às 4 da manhã, preparavam o café para as crianças do bairro, publicavam um jornal e pensavam num plano específico para guiar sua luta. É preciso lembrar que Bobby Seale fez uma campanha para a Prefeitura de Oakland, ficou em segundo lugar e conseguiu mais de 40% dos votos. Ele era um homem muito inteligente, que sabia como gerenciar a organização para permitir que o Poder Negro triunfasse.

Você se desviou um pouco da minha pergunta aqui...
Sim, desculpe [risos]. Os Panteras, como todas as pessoas e movimentos que tentaram criar uma mudança social real, sempre criaram ondas de descontentamento e desconfiança. Veja o que aconteceu com Martin Luther King: ele defendia a paz, e mesmo assim as pessoas o odiavam. Hoje ele é uma lenda, mas as pessoas se recusavam a ouvir seus discursos na época. Algumas pessoas queriam matá-lo e acabaram conseguindo. Os Panteras tiveram o mesmo destino: figuras de liderança como Fred Hampton foram mortas e o FBI criou o COINTELPRO, um programa que visava neutralizar grupos políticos percebidos como ameaças para a segurança nacional. Como você sabe, não era incomum Panteras serem mortos em confrontos com a polícia, e não é sem razão que eles tinham acomodações separadas para os filhos. Eles faziam isso para que as crianças também não acabassem vítimas dos muitos ataques às casas deles pelo FBI. Isso também era parte de ser membro do Partido: estar sob ameaça constante das autoridades e seus ataques racistas.
                                       

No começo você falou sobre sua amizade com Bobby Seale. O que você pode dizer sobre Huey P. Newton e Angela Davis, que você também conheceu?
Não conheci bem Angela Davis, a fotografei algumas vezes, mas ela só ficou no Partido por seis meses. Depois disso ela se juntou ao Partido Comunista Americano. Com Huey, por outro lado, passei um pouco mais de tempo. Ele era muito talentoso, inteligente e carismático. Provavelmente tinha uma razão para ele ter tomado controle do partido com Bobby Seale. A força deles era se cercar de pessoas muito inteligentes para ver sua causa vencer: Stokely Carmichael, George Jackson ou Fred Hampton. Se não tivesse sido morto pelo FBI, acho que ele estaria sob os holofotes até hoje.

O Partido dos Panteras Negras tinha uma visão muito progressista, ao ponto de dar grandes responsabilidades para mulheres numa época quando a desigualdade entre os sexos ainda era a norma...
Não posso dizer que as mulheres tinham igualdade, mas isso tem a ver com o contexto social global da época. Por outro lado, as mulheres tinham papéis muito importantes no Partido. Como você disse, os Panteras foram um dos movimentos mais progressistas dos EUA, particularmente em se tratando dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT+. Não era uma posição fácil de se promover na época, e ainda não é hoje, na verdade. Você tem que pensar que muita da população negra americana frequenta a igreja e continua muito conservadora. Mas ficou claro que mulheres como Kathleen Cleaver ou Ericka Huggins tinham carisma suficiente para se afirmar lado a lado com os homens do movimento.
                              

Afeni Shakur também estava lá, a mãe de 2pac.
Só me encontrei com ela uma vez. Estávamos em estados diferentes. Mas ela era uma mulher muito comprometida e muito próxima de um grande amigo meu, Jamal Joseph, também um ex-membro dos Panteras.

Alguma vez você quis deixar a câmera de lado e assumir um papel mais direto na luta?
Sabe, o que tentei fazer fora da fotografia sempre teve menos impacto, na minha opinião, que as imagens que capturei. Fui parte da campanha do Bobby Seales para a prefeitura de Oakland, marchei contra a Guerra do Vietnã, fui membro do Berkeley Barb, um jornal alternativo, mas as fotos que fiz são muito mais úteis para conscientização. No final, elas são o que permaneceu.

Em 2018, temos a impressão que as coisas não mudaram tanto assim para a população afro-americana.
E é verdade. Muitas das questões levantadas na época pelos Panteras ainda existem hoje. Bobby Seale pode ter dito que sitcoms negras ajudaram a comunidade negra a ser aceita pelo público geral, mas o desemprego afro-americano continua duas vezes mais altos que entre pessoas brancas, e uma em cada quatro crianças negras ainda vive abaixo da linha da pobreza. E não é como se a presidência de Donald Trump fosse mudar isso. Os Panteras Negras costumavam dizer que você não devia ouvir ninguém com mais de 30, e acho que Trump é um ótimo exemplo de como eles estavam certos. O que ele tem estabelecido, o que ele diz em seus discursos, só alimenta o ódio no país.
                               

                               

Matéria originalmente publicada pela i-D França.