PONTO DE CULTURA - TAMBORES DA RESISTÊNCIA

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sábado, 27 de abril de 2024

Oficinas gratuitas de Maracatu de Baque Virado

 

O Ponto de Cultura - Tambores da Resistência em Floresta/PE, está oferecendo Oficinas abertas de Maracatu de Baque Virado, na Comunidade do Vulcão, bairro Escondidinho.

QUANDO

As oficinas são realizadas aos domingos a partir das 16:00h (quatro da tarde)

QUEM PODE PARTICIPAR

A partcipação é livre e totalmente gratuita para as pessoas da Comunidade do Vulcão e também de outras localidades.

Se for menor de idade, deve ser acompanhado dos pais e/ou responsáveis que possam autorizar.

INFORMAÇÕES

Para maiores informações, entrar em contato com Libânio Francisco, pelo Cel/Zap (87)9 9927.9125.

VENHA PARTICIPAR !

Tambores da Resistência é o único Ponto de Cultura de Floresta/PE


O Ponto de Cultura - Tambores da Resistência é atualmente o único Ponto de Cultura existente no Município de Floresta.

Com uma história iniciada em 02 de setembro de 2011, quando o Instituto Cultural Raízes lançou o Projeto Afrobatuque, o Tambores da Resistência segue para completar 13 anos, se consolidando como a principal iniciativa de Cultura Popular, realmente vinculada às periferias urbanas, a área rural e comunidades tradicionais de Floresta/PE, atuando de forma efetiva e permanente.

A atuação junto às Comunidades Tradicionais se dá diretamente com a Comunidade Quilombola de Floresta em parceria com a Associação Quilombola Raízes Negros do Pajeú e com a Etnia Indígena Pankará, através de parceria com o Grupo Cultural Kambengá, da Aldeia Lagoa, na Serra do Arapuá.

O Ponto de Cultura - Tambores da Resistência foi reconhecido pelo Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura em 08/03/2019, tendo essa Certificação sido reafirmada no ano de 2023.


Aonde está localizado o Ponto de Cultura em Floresta ?

O Ponto de Cultura, tem sua sede à Rua Manoel Ferraz, S/N, bairro Dner / São Francisco em parceria com a Diocese de Floresta, que cedeu o local para funcionamento da Sede do Instituto Cultural Raízes. Nesse local funciona o Espaço Cultural Arte e Vida, denominado assim por ocasião da parceria construída a partir do Projeto Arte e Vida.

Outro local de atuação permanente do Ponto de Cultura é o bairro Escondidinho / Vulcão, aonde teve início todo o trabalho sócio cultural do Instituto Raízes. Lá, as atividades estão concentradas no Espaço Cultural Mestre Elias de Flora, e recebeu esse nome pelo fato do mesmo ser uma das mais importantes referências da Cultura Popular de Floresta.


Saiba mais sobre o Ponto de Cultura - Tambores da Resistência

Para saber mais sobre o Ponto de Cultura, acesse os links a seguir:


segunda-feira, 22 de abril de 2024

Ponto de Cultura em Floresta lança programação para a Comunidade do Vulcão


O Ponto de Cultura Tambores da Resistência, apresenta a nova programação de oficinas para a Comunidade do Vulcão e demais pessoas interessadas.

Na nova programação, estão previstas as seguintes atividades:
- Aulas de Violão
- Aulas de Flauta Doce
- Oficinas de Maracatu de Baque Virado
- Oficinas de Samba Reggae
- Oficinas de Afoxé
- Oficinas de Coco
- Oficinas de Danças Populares e Tradicionais
- Oficinas de Audiovisual.

O público a ser atendido é prioritariamente a Comunidade do Escondidinho/Vulcão na periferia de Floresta, más está aberto para demais interessados(as) das localidades próximas, que tenham interesse em participar.

As inscrições estão abertas durante toda essa semana e  a partir do dia 1 de maio de 2024, já começam as atividades dentro da programação.

O Ponto de Cultura Tambores da Resistência é a principal ação desenvolvida pelo Instituto Cultural Raízes, em parceria com o Grupo Afro Cultural Maracatu Afrobatuque e a Associação Quilombola Raízes Negros do Pajeú.

domingo, 21 de abril de 2024

Saiba tudo sobre a PNAB - Politica Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura


A Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), instituída pela Lei nº 14.399, de 8 de julho de 2022, tem como objetivo fomentar a cultura em todos os estados, municípios e Distrito Federal.

Com recursos previstos até 2027, a PNAB é uma oportunidade histórica de estruturar o sistema federativo de financiamento à cultura, mediante repasses da União aos demais entes federativos de forma continuada. Fomento que será repassado a ações culturais por meio de editais para trabalhadores e trabalhadoras da área cultural.

PARA SABER TUDO SOBRE A PNAB, ACESSE AS INFORMAÇÕES NOS LINKS A SEGUIR:


TV Raízes da Cultura faz homenagem aos Povos Indígenas pelo 19 de abril


A TV Raízes da Cultura, faz homenagem especial a todos os Povos Indígenas do Brasil e especialmente de Pernambuco, por ocasião do 19 de abril DIA DOS POVOS INDÍGENAS.

Por toda a história e pelas lutas de resistência !

Assistam os vídeos disponíveis na TV Raízes da Cultura, acessando abaixo:




sábado, 20 de abril de 2024

Raízes Indígenas de Floresta/PE

 

Foto: Indígenas - Imagem da internet

Uma introdução necessária

- a história indígena começa bem antes da invasão colonizadora -
Antes de 1500  

Para melhor compreender o processo das origens/raízes indígenas dos municípios de Pernambuco e em especial do Sertão do Sub médio do São Francisco, se faz necessário ter um olhar mais amplo, no sentindo de entender que antes da chegada dos ditos colonizadores, haviam já habitando a região, diversos grupos étnicos originários, que constituiam civilizações humanas, com suas próprias organizações sociais. 

O município de Floresta, (à exemplo dos demais da região) possui uma história original a partir dos povos indígenas que habitavam a região do Rio Pajeú e seu entorno, denominados de forma generalizada como Tapuias / Tapuios ou Tapuias-Kariris. Os quais também habitavam largas porções do agreste e outras localidades do sertão.

Posteriormente, devido às invasões colonizadoras no litoral, outras tribos se deslocam para o sertão fugindo dos colonizadores que escravizava-os ou simplesmente matava-os.

No sertão estavam principalmente os nativos que falavam uma língua, segundo os Tupis, muito diferente da deles e por isso denominaram-lhe de Tapuia, nome ofensivo que significa língua travada, bárbaro. O termo passou a ser usado pelos portugueses. (mais adiante trataremos melhor esse tema)

Das tribos chamadas de Tapuias na região, pelo que se tem notícias, através de documentos, relatórios e crônicas da época colonial incluem-se os Umãs, Vouves, Xocó, Kariri, Pankarurú, Periá, Tuxá, Pipipã, Proká e Quesque, entre outros, conforme ilustrado no mapa a seguir, produzido pelo antropólogo e etnólogo *Curt Nimuendajú.

Mapa destacando as tribos indígenas na área do Rio Pajeú e seu entorno

Como viviam

Os Tapuias viviam como semi-nômades e tinham formas próprias de guerrear com tacape e lança.

Tinham o milho e o feijão como cultivos principais.

Usavam pouca cerâmica e não teciam; dormiam em estrados de madeira (jiraus).

Havia agrupamentos ou tribos na margem do rio que podia ter até mil moradores.

Perseguição e extermínio

O índio (ou nativo) sofreu perseguição desde o início da colonização e teve no século XVIII seu extermínio quase total, através das bandeiras montadas para sua captura.

Os índios do sertão sofreram guerras por defenderem as suas terras ou por pretenderem desfrutar os gados das fazendas que se espalhavam por seu território.

Os que não foram mortos ou escravizados refugiaram-se em aldeias dirigidas por missionários, chamadas de MISSÕES. Outros ainda procuraram amparo com "homens poderosos" (fazendeiros, políticos e coronéis) servindo-lhes, como vaqueiros e também como jagunços.

O indígena trabalhava forçado nas Missões, ou como escravo nas fazendas de gado e plantações. Também nas casas como domésticos ou no trabalho de transporte.

O índio também foi cruelmente utilizado para guerrear contra outros nativos.

No final do século XVIII as chamadas “Guerras dos Bárbaros” praticamente exterminaram na bala e no facão as nações indígenas que resistiam contra os invasores brancos. Do baixo sertão até a cabeça do Pajeú, nos limites com a Paraíba, os índios foram caçados e massacrados.

Com base em pesquisas nos livros de batismo e casamento das paróquias do sertão pernambucano, no final do século XVIII e no século XIX, os índios nativos (registrados em geral como “da silva”) que sobreviveram já aparecem miscigenados com negros e brancos e constituem a massa da população brasileira dos sertões, conhecida como os pardos ou caboclos.

A história conta da agressividade com que eram tratados os índios em sua captura

É comum, ainda hoje, encontrar relatos de várias pessoas, descendentes de indígenas, que contam "minha bisavó, foi apanhada a dente de cachorro".

Um exemplo claro de como eram desumanamente tratados os índios (povos originários) que habitavam a região.

Dança de Índios Tarairiú Tapuias (Albert Eckhout)

Quem são os Tapuias ?

Tapuia é um termo de origem tupi que foi utilizado durante o período inicial de colonização do Brasil para designar todos os indígenas que não falavam o tupi antigo

Ao desembarcarem na costa do atual Brasil, os portugueses encontraram grupos que falavam línguas pertencentes a dois grandes troncos linguísticos da América do Sul: o tupi e o macro-jê

Aqueles que habitavam o litoral do Brasil falavam línguas pertencentes ao tronco tupi, ao passo que os falantes de línguas macro-jê com os quais os portugueses travaram contato habitavam regiões do interior do Sudeste, Nordeste e do Sul do Brasil. 

Como o centro da colonização brasileira se deu no litoral, os portugueses, após estabelecerem contato mais próximo com os índios tupis, adotaram a nomenclatura que esses indígenas deram àqueles a quem se opunham, ou seja, os índios macro-jê ou tapuias.

Etimologia

Há diversos entendimentos das origens do termo, mas, em geral, observa-se que seria de procedência tupi e que teria significado semelhante a "forasteiro", "bárbaro", "aquele que não fala nossa língua", "inimigo".

“ O termo "Tapuio" não é expressão designativa de uma etnia. É tão somente "Um vocábulo de origem tupi, corruptela de tapuy-ú – o gênio bárbaro come, onde vive o gentio. [...] É um dos termos de significação mais vária [diversificada] no Brasil. No Brasil pré-cabraliano, assim chamavam os tupis aos gentios inimigos, que, em geral, viviam no interior, na Tapuirama ou Tapuiretama – a região dos bárbaros ou dos tapuias". ”

“ Tapuia significa "bárbaro, inimigo". De taba – aldeia e puir – fugir: os fugidos da aldeia.

Histórico

Autores quinhentistas como Gabriel Soares de Sousa já utilizavam o termo "tapuia", contrastando os índios dessa estirpe com os tupi-guaranis (tupinambás). No entanto, muitos cronistas coloniais consideravam os diferentes grupos indígenas como parte de uma única e grande nação, resultando no engano de caracterizar grupos tupis como tapuias.[2] Sobre a origem dos aimorés, Soares Sousa escreveu:
“ Descendem estes aimorés de outros gentios a que chamam tapuias, dos quais, nos tempos de atrás, se ausentaram certos casais, e foram-se para umas serras mui ásperas, fugindo a um desbarate, em que os puseram seus contrários, onde residiram muitos anos sem verem outra gente; e os que destes descenderam, vieram a perder a linguagem e fizeram outra nova que se não entende de nenhuma outra nação do gentio de todo este Estado do Brasil. ”

Os tupi-guaranis marcavam presença no litoral, enquanto os tapuias predominavam no interior. Grupos tapuias incluem, por exemplo os botocudos e muitos do nordeste do Brasil, como os tarairus e os cariris.[3]

Segundo os neerlandeses

Os Tapuias formam um povo que habita no interior para o lado do ocidente, sobre os montes e em sua vizinhança, em lugares que são os limites os mais afastados das capitanias ora ocupadas pelos brancos, assim neerlandeses como portugueses. Dividem-se em várias nações. Alguns habitam transversalmente a Pernambuco: são os Cariris, cujo rei se chama Kerioukeiou. Uma outra nação reside um pouco mais longe: é a dos Caririwasys, e seu rei se chama Karupoto. Há uma terceira nação, cujos índios se chamam Careryjouws (Carijós?). Conhecemos particularmente a nação dos Tapuias chamados Tarairyou, Janduwy é o rei de uma parte dela, e Caracará da outra.

Referências
NAZÁRIO, MARIA DE LURDES (2016). «ATITUDES ETNOLINGUÍSTICAS DOPOVO TAPUIA» (PDF). Tese. Consultado em 27 de abril de 2019
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. (2013). Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FGV
Dirceu Lindoso (2008). Lições de etnologia geral: introdução ao estudo de seus princípios : seguido de dois estudos de etnologia brasileira. [S.l.]: UFAL. 234 páginas. ISBN 9788571774261
BibliografiaFEMENICK, Tomislav R.. Tapuios e Outros Índios. Gazeta do Oeste, Mossoró 28 de janeiro de 2007; O Jornal de Hoje, Natal 29 de janeiro de 2007
MONTEIRO, John M.. Tupis, Tapuias e Historiadores. Estudos de História Indígena e do Indigenismo. Departamento de Antropologia, IFCH-Unicamp, Campinas 2001
OLIVEIRA, E. da S.; MORAIS, M. A de; MEDEIROS, E. D. de & MEDEIROS, M. de L. P. de. Tapuias. História do RN n@ WEB [On-line] (ufrn.br)
SILVA, Lorranne Gomes da, VASCONCELOS, Eduardo Henrique Barbosa de, 'Os Tapuia: Uma história de resistências e esperança', In:[Revista] Tarairiú, Ano III-Vol1 Número 04-Abr/Mai 2012, pag. 64-78. http://mhn.uepb.edu.br/revista_tarairiu/n4/art5.pdf



Os Kariris

Kariri, cariri, kairiri ou kiriri (do tupi kiri'ri, "silencioso")[1] é a designação da principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste do Brasil. Vários grupos locais ou etnias foram ou são referidos como pertencentes ou relacionados a ela. Na literatura especializada, existe uma larga discussão sobre os pertencimentos dos grupos indígenas do sertão à família Kariri ou a outras famílias como a Tarairiú. Além dessas, existem várias línguas isoladas na região (yathê, xukuru, pankararu, proká, xokó, natu etc.). Historicamente, os grupos indígenas da região aparecem denominados de modo genérico como tapuias, podendo ser vinculados ao tronco linguístico macro-jê.[2]

As línguas Kariri

Apesar de comprovadamente presente em todo o semiárido nordestino, apenas quatro das línguas kariri chegaram a ser minimamente descritas, todas elas da região ao sul do São Francisco: o Dzubukuá, falado por grupos no arco do submédio São Francisco (entre o que é hoje Petrolina e Paulo Afonso); o Kipeá, falado por indígenas que se tornaram conhecidos como Quiriri (ou Kiriri) principalmente na bacia do Itapicuru, Bahia; e o Camamu (ou Kariri) e o Sapuyá, de duas aldeias próximas na região de Pedra Branca (bacia do Paraguaçu), também na Bahia.

Influência na toponímia

Toda a região marcada pela presença dos Kariri e pela Guerra dos Bárbaros (1683-1713) tem isto hoje muito distintivamente assinalado em sua toponímia, no extenso arco de serras dos Cariris Velhos e dos Cariris Novos, respectivamente nas divisas entre Paraíba e Pernambuco e entre Paraíba e Ceará; na região do Cariri, a sudoeste de Campina Grande (também uma antiga missão cristã de índios), na Paraíba, e, famosamente, no Vale do Cariri, que ocupa toda a bacia do Alto Jaguaribe, no sul do Ceará. Ainda na Paraíba, a cidade de Pilar, originou-se de um outro aldeamento de indígenas Kariri e Coremas.[3]

No período holandês

Uma das primeiras referências aos povos indígenas Kariris data do período da ocupação holandesa em Pernambuco e Paraíba. Elias Herckman, governador holandês da Capitania da Paraíba, descreveu em 1639 os povos indígenas que habitavam no interior dessa capitania e que mantinham contato com os holandeses:

"Os Tapuyas criados um povo que habita no interior para o lado do occidente sobre os montes e em sua vizinhança, em logares que são os limites mais afastados das Capitanias ora ocupadas pelos brancos, assim neerlandês como portugueses. Dividem-se em várias nações. Alguns habitam transversalmente (dwers van) a Pernambuco, são os Carirys, cujo rei se chama Kerioukeiou. Uma outra nação reside um pouco mais longe, é a dos Caririwasys, e o seu rei é Karupotó. Há uma terceira nação, cujos índios se chamam Careryjouws (Carijós?). Conhecemos particularmente a nação dos Tapuyas chamados Tarairyou; Janduwy é o rei de uma parte dela, e Caracará da outra". (Herckman, 1982 (1639), p. 211)

Guerra dos Bárbaros

A Confederação dos Kariris ou Guerra dos Bárbaros

Os muitos grupos Kariri existentes ao norte do São Francisco, principalmente nos atuais estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, enfrentaram a epopeia de uma guerra de extermínio que se seguiu a expulsão dos holandeses e que durou toda a segunda metade do século XVII. Esse importante episódio até recentemente pouco conhecido da História do Brasil, conhecido como "Guerra dos Bárbaros", "Guerra do Açu" ou "Confederação dos Kariris", está hoje bem descrito no livro "A Guerra dos Bárbaros", de Pedro Puntoni, da USP, publicado há poucos anos. Há também outras obras recentes de historiadores de Pernambuco e Ceará sobre esse sangrento episódio histórico.

Os sobreviventes dessa guerra chegaram a ser reunidos em estabelecimentos missionários espalhados pelo sertão da Paraíba; pelas regiões do Seridó e do Açu, no Rio Grande do Norte; e por todo o Centro e Sul do Ceará[4].


Aliados aos quilombos

O historiador Ricardo Pinto de Medeiros informa que os indígenas Kariri da aldeia do Pilar na Paraíba, haviam aliado-se aos quilombolas do Cumbe.

Em outubro de 1731 o rei escreve ao capitão-mor da Paraíba a respeito da informação que havia recebido sobre os roubos que os moradores do sertão do Cariri, Tapera e Taipu estavam sofrendo do mocambo do Cumbe, onde se achavam havia mais de treze anos, quatro índios que haviam fugido da aldeia do Cariri, de que eram moradores. Aqueles estavam fazendo repetidos assaltos à dita aldeia e provocando a sua diminuição, por estarem levando os índios e os agregando à sua companhia, junto com negros fugidos, com o que chegavam a quase setenta pessoas. Na entrada realizada pelo sargento-mor Gaspar Pereira de Oliveira e pelo capitão Teodósio Pereira de Oliveira ao dito mocambo foram mortos cinco índios e aprisionados cinqüenta e seis, e sete negros, escapando dos quatro índios cabeças desta gente, três, tendo um deles por nome Bartolomeu que com quatro filhos seus tinha feito uma emboscada, e matado um soldado, ferindo também ao cabo, e escapando por veredas impenetráveis para as cabeceiras do rio Capibaribe da jurisdição de Pernambuco. O rei ordena ao capitão-mor da Paraíba avisar ao governador de Pernambuco para o mandar prender. Em outra carta escrita pelo rei ao capitão-mor da Paraíba, em agosto do ano seguinte, o rei agradece a informação a respeito do dito Mocambo, onde das cinqüenta e sete pessoas que se haviam prendido, sete eram negros e duas eram negras, que foram entregues a seus donos e os quatro índios que o capitão-mor achou serem os cabeças do mocambo, foram mandados para a cadeia, onde morreram do “contágio das bexigas” antes de cumprir a pena. Os outros haviam sido entregues ao seu missionário que os havia levado para a aldeia onde estavam vivendo com sujeição.[6]



O Rio Pajeú

O nome do Rio Pajeú originou-se do vocabulário indígena que segundo Nelson Barbalho (v. 9, 1983, p. 134) significava "o rio do feiticeiro, do adivinho". O rio nasce no município de Brejinho ao Norte de Pernambuco desaguando no Rio São Francisco formando a Bacia do Vale do Pajeú.

Outros registros dão conta de que a origem do nome, o qual era chamado pelos índios de “Payaú”, ou “rio do pajé”.

O apagamento histórico

Primeiro vieram as invasões dos colonizadores que trataram os povos originários como animais ou até mesmo coisa pior, caçando-os e perseguindo-os com o intuito de escravizar e dominar. Essas atitudes buscavam descaracterizar ou desconhecer a civilização existente nos agrupamentos indígenas, seu modo de vida, sua cultura e sua espiritualidade.

Em segundo, juntamente com os colonizadores veio a Igreja Católica com suas "Missões" catequizadoras e a constituição dos aldeamentos, o que no final das contas tinha o mesmo objetivo de escravizar e dominar os povos originários locais. As próprias missões perseguiam e demonizavam as tradições originárias dos povos, insistindo na negação de suas crenças e de seus modos de vida tradicionais.

Em terceiro, vem a diluição etnica dos povos indígenas já mesmo nas missões e, quando da extinção das mesmas, aonde os seguimentos detentores do poder se encarregaram de declarar a não existência dos indígenas na região, para possibilitar o controle sobre as terras e causar o  apagamento da presença indígena na história social local e regional.

É comum na história formal e/ou oficial dos municípios da região, mesmo os que cujos nomes provem da origem indígena, resumirem essa presença indígena apenas à menção de que as terras "eram ocupadas por tribos indígenas", isso quando não omitem por completo, a presença indígena.


O ressurgimento indígena

Destacamos em primeiro lugar, que a abordagem do tema "ressurgimento indígena" não quer dizer que significa que os povos indígenas tenham realmente sido extintos, como assim publicaram os setores dominantes e opressores nos finais do século XIX.

Mesmo apagados, chamados de mestiços, caboclos, cabras e pardos e, tendo que se deslocarem de uma região para outra em busca de sobrevivência, vários descendentes das tribos indígenas originárias, mantiveram suas tradições, ainda que escondidas, longe dos olhares opressores e, foram capazes de preservar as bases necessárias para os reconhecimentos étnicos que se deram a partir dos anos de 1940 aos dias de hoje.


Povo Pipipã. Imagem colhida da internet.

Etnia Pipipã (ressurgimento)

Os Pipipã ressurgem num contexto avançado do movimento de etnogênese dos povos indígenas no Nordeste, em um momento político que se desencadeia um fato relativamente genérico entre esses povos, o qual os etnólogos relutaram em definir ora como “faccionalismo”, “questões internas”, “estratégias de ocupação territorial” ora como “dinâmica social característica de todos os povos indígenas”. 

Segundo Barbosa (2000), o fato que leva ao ressurgimento dos Pipipã remete à crise que se iniciou em maio de 1998, na área indígena Kambiwá, quando ocorreu uma reunião em que se começou a cogitar a deposição do então Pajé daquele povo, Expedito Roseno. Essa crise se desdobrou numa eleição das lideranças de Cacique e Pajé. Um impasse sobre o resultado, entretanto, produziu a “cisão” do grupo que, por sua vez, gerou a etnogênese Pipipã.

O símbolo do rompimento foi expresso através da queima das “maracas” e das “cataiobas”, instrumentos e vestes rituais utilizados na Dança do Toré. Desapartados, o mote da diferença passou a ser a “cultura”, a “tradição”, simbolizada na Dança do Toré em oposição à dança dos “Praiá”, esta caracteriza os Kambiwá e os liga aos Pankararu. Do ponto de vista dos Pipipã, a Dança do Toré é o elemento da tradição e da cultura manipulada pelo Pajé que se opôs ao Praiá, marcando o conflito entre os kambiwá, culminando com a cisão daquele povo e causando a ressurgência dos Pipipã.

Fonte de Pesquisa, Jozelito Alves Arcanjo.

Crianças Pipipã. Imagem colhida na internet.

Referências Indígenas atuais de Floresta/PE

Para pensar e conhecer as referências indígenas atuais em Floresta/PE, se faz necessário ter uma dimensão mais ampla, considerando as influências e os processos de resistência que se deram nos deslocamentos e nos ajuntamentos nas Serras Negra, Umãs, Arapuá e Tacaratu, além de outras localidades que foram espaços territoriais de resistência humana e ancestral.

Também se faz necessário compreender que esse processo de resistência se faz na mistura ou mesclagem com os negros e negras, muitos hoje reconhecidos como remanescentes de quilombolas, produzindo uma reinvenção étnica e tradicional, visivelmente presente nas etnias Atikum, Pankararú e Pankará, no entorno de Floresta e, na Etnia Pipipã localizada no território local da Serra Negra.

MAPA DA ÁREA RURAL DE FLORESTA

Tradições e Referências Culturais e Históricas de Floresta/PE de origem Indígena

Destacamos a seguir algumas das muitas referências e tradições culturais e históricas que marcam a presença indígena na história de Floresta/PE.

Importante destacar de forma prévia que o desenvolvimento econômico, arquitetônico e da estrutura social, não seria possível ter existido, sem a mão de obra indígena e negra, quer seja escrava, quer seja subordinada ou assalariada.

Tradições Culturais Indígenas

Toré

Destacamos a seguir algumas das muitas referências e tradições culturais e históricas que marcam a presença

Ritual Pipipã

Uma das tradições mais importantes que remete aos aspectos históricos e ancestrais existente em Floresta, são o conjunto de manifestações mantidas pelo Povo Pipipã da Serra Negra, também chamados de Pipipãs de Kambixuru, remanescentes dos povos originários que habitavam a região, quando da chegada do invasor/colonizador.

A ancestralidade está representada nos rituais aonde se destaca o Toré, cujo momento de maior importância é o Aricuri.

No contexto dessa ritualidade, vários momentos são destacados como os mais importantes:

Limpeza do terreiro

É um ritual de proteção que antecede a abertura do Aricuri, realizada pelo Pajé e por um grupo de iniciados. Consiste na coleta de folhas/palhas de ouricuri para serem cravadas nas extremidades do terreiro; faz parte do trabalho de Limpeza do terreiro para o início do Aricuri. 

Aricuri

Ritual que acontece uma vez por ano, muitos Pipipã a ele se referem como “nossa festa”. Inicia-se no dia 10 de outubro e se estende até o dia 20 do mesmo mês. O Pajé é o seu principal articulador.

O Aricuri é vivido pelos Pipipã como uma expressão maior de sua religiosidade. Consiste no afastamento das ações do cotidiano de dentro da aldeia para um isolamento dentro da mata na Serra Negra.

Na maioria das casas, durante o período ritual, há poucas pessoas para cuidar dos animais domésticos, e elas se revezam com as que estão na Serra. 

O Encruzamento das crianças

É uma espécie de “batismo” no Aricuri, portanto, um ritual de iniciação. A partir dele, o Pajé busca, pela ciência, identificar seus iniciandos. 

O Dia das Crianças

É uma celebração realizada durante o período do Aricuri, no dia 12 de outubro, pela manhã. Consiste na realização de uma Dança do Toré em que participam somente as crianças. Toda comunidade ritual assiste e em seguida é servida a comida ritual, as primeiras pessoas a serem servidas, são as crianças. 

O “Panteão de Encantados”

Os Encantados são “espíritos de índios que não morreram, mas abandonaram voluntariamente o mundo por “encantamento”, passando a compor o panteão virtualmente indeterminado de espíritos protetores de cada grupo” (Arruti,1999:255), os quais, através dos rituais, dos sonhos e da Dança do Toré, remetem o povo ao contato com os seus antepassados."

Fontes de informação
FORTES, Patrícia. & ARCANJO, Jozelito. Verbete Pipipã. Núcleo de Estudos e Pesquisa Sobre Etnicidade/ NEPE

Tradições Culturais AfroIndígenas

Banda de Pífano


A Banda de Pífanos é uma das criações indígenas juntamente com o povo negro, tendo se tornado uma das referências mais importantes da cultura popular e tradicional de Floresta, tendo no Mestre Elias de Flora seu personagem principal.

Na foto em destaque a Banda de Pífanos acompanha o cortejo da Confraria do Rosário dos Pretos. 

Dança do São Gonçalo


A Dança de São Gonçalo é uma das mais antigas tradições populares de Floresta e região, que mistura devoção com cultura popular.

Não é de origem indígena ou negra e sim de Portugal, más foi absorvida pelas comunidades populares, especialmente compostas por remanescentes indígenas e negros, portanto, podendo ser considerada uma manifestação popular com raízes indígenas.

Na foto em destaque, o Grupo de São Gonçalo da Comunidade Malhada Vermelha, tendo a frente o Mestre Antonio Etelvino.

Referências Históricas

Inscrições rupestres na Fazenda Mãe D'água


Nas inscrições rupestres localizadas em formações rochosas da Fazenda Mãe D'água, uma comprovação muito importante da passagem dos povos indígenas pela região, em tempos passados. 

Vista da Serra Negra


Vista da Serra Negra, um dos mais importantes referenciais naturais e históricos, que foi o último reduto de resistência dos povos indígenas e negros contra a opressão colonizadora. Hoje, Território que acomoda duas Etnias Indígenas, o Povo Pipipã pela parte de Floresta e o Povo Kambiwá, pela parte de Ibimirim.

Outros aspectos históricos muito importantes se somam na caracterização da influência indígena na construção social e humana de Floresta-PE e seu entorno.

Varias expressões da culinária local, no artesanato em palha (especialmente o Caroá) nomes de localidades e plantas carregam a participação dos povos originários.

No mapa da área rural de Floresta (acima) encontram-se diversos nomes de propriedades os quais tem origem indígena.

Também em relação à tradição de rezadores(as), benzedeiras, parteiras e o uso das ervas sagradas, tem traços fortes dos costumes indígenas, somados à contribuição dos(as) africanos(as) trazidos para serem escravizados.

CRÉDITOS:
- Pesquisa, Texto e Redação: Libânio Francisco
- Fotos: Colhidas na Internet
- Foto da Dança do São Gonçalo: Libânio Francisco / TV Raízes da Cultura

Obs.: O presente texto e conteúdo faz parte do Documentário que está sendo produzido pelo Instituto Cultural Raízes, com patrocínio da Lei Paulo Gustavo, cujo título é: RAÍZES AFRICANAS E INDÍGENAS NA FORMAÇÃO SOCIAL E CULTURAL DE FLORESTA.

Curt Nimuendajú - Kurt Unckel (1883-1945) nasceu na cidade alemã de Jena e tornou-se etnólogo a partir da experiência de contato e de pesquisa com povos indígenas no Brasil. Recebeu a alcunha de Nimuendajú (o que fez seu assento, o que se estabeleceu, conforme tradução livre do linguista Aryon Rodrigues) pelos guaranis do oeste paulistano, por volta do ano de 1905. Naturalizou-se brasileiro em 1920, adotando oficialmente o nome a ele dado pelos indígenas. Foi um dos principais pesquisadores da diversidade social e cultural da Amazônia. Além de uma vasta obra intelectual, também produziu três versões do Mapa por encomenda das instituições de pesquisa Smithsonian Institution, Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu Nacional do Rio de Janeiro. 

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Semana dos Povos Indígenas de Floresta, uma Lei que ainda precisa ser colocada em prática


O Município de Floresta/PE é pioneiro em várias leis culturais. Uma dessas é a Lei nº 477/2012, promulgada em 13 de abril de 2012, tendo completado exatos 12 anos.

A Lei cria a Semana dos Povos Indígenas, a ser realizada anualmente, no âmbito do Município de Floresta, na semana em que estiver inserido o dia 19 de abril e, acrescenta que essa semana passará a constar do Calendário Oficial de datas e eventos culturais do Município de Floresta – PE.

Como surgiu a Lei 477/2012

O surgimento da Lei 477/2012, se deu a partir da iniciativa do Instituto Cultural Raízes, no sentido de contribuir para a construção de um Calendário Cultural de Floresta que leve em conta os aspectos históricos e tradicionais e, após iniciativa anterior que resultou na Lei da Semana da Consciência Negra.

O Instituto Cultural Raízes elaborou o Projeto de Lei e apresentou ao Executivo Municipal, o qual encaminhou à Câmara Municipal. que aprovou a proposta por unanimidade no dia 10/04/2012, sendo então sancionada e publicada pela Prefeitura em 13/10/2012.

Objetivos da Lei 477/2012

O objetivo principal da Lei é dar visibilidade ampla as origens históricas dos povos indiígenas de Floresta e sua partiicipação direta no processo de construção social e cultural, destacando inclusive sua realidade atual.

O texto da Lei diz que: Serão promovidas nesta semana pelo Poder Executivo Municipal, em parceria com as entidades representativas e junto às instâncias governamentais e não-governamentais, as seguintes atividades:
A - Seminários;
B - Feiras Temáticas;
C - Palestras em escolas;
D - Atividades nas comunidades indígenas;
E - Campanhas solidárias;
F - Atividades Culturais e esportivas;
G - Manifestações públicas.

Destaca ainda que: O Poder Executivo juntamente com as comunidades indígenas e suas organizações serão responsáveis pela elaboração e execução do calendário de programação da semana, sempre visando a valorização da cultura dos povos indígenas no município e a reafirmação de suas identidades e alteridades.

O calendário será elaborado pelo Poder Executivo, através de suas secretarias e órgãos responsáveis.

Num prazo de quarenta dias que antecede a realização da semana, o Poder Executivo deverá apresentar o calendário de atividades para as instituições representantes dos povos indígenas.

23/05/2017 - Seminário dos Povos Tradicionais - Floresta/PE

Uma Lei que precisa ser implementada

Na opinião de Libânio Francisco, Presidente do Instituto Cultural Raízes, "a Lei 477/2012, precisa ser implementada na prática, não apenas como calendário cultural, más principalmente no ambiente escolar, proporcionando a compreensão histórica e atual da importância e do papel dos povos indígenas, na construção social, humana e cultural da sociedade florestana e região".

Sintonia com a Lei Federal 11.645

A Lei 477/2012, também está em sintonia com a Lei Federal nº 11.645, de 10 de março de 2008, que estabelece a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados.

LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.


Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o  O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)

Art. 2o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília,  10  de  março  de 2008; 187o da Independência e 120o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Fernando Haddad