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quarta-feira, 27 de março de 2019

Papa Francisco irá a Moçambique, Madagascar e Maurício

O Papa fará uma Viagem Apostólica a Moçambique, Madagascar e Maurício de 4 a 10 de setembro deste ano. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (27/03) pela Sala de Imprensa da Santa Sé

Cidade do Vaticano

Foi publicada na manhã desta quarta-feira (27/03) a Declaração do diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, comunicando que o Santo Padre fará uma Viagem Apostólica a três países, dois da África e Madagascar, em setembro deste ano.

“Acolhendo o convite dos respectivos presidentes e dos Bispos, Sua Santidade Papa Francisco realizará uma Viagem Apostólica a Moçambique, Madagascar e Maurício de 4 a 10 de setembro de 2019, visitando as cidades de Maputo em Moçambique, Antananarivo em Madagascar e Port Louis em Maurício. O programa da viagem será publicado oportunamente”.

Entenda o Lema e o Logo utilizado na viagem do Papa Francisco

Madagáscar é representada pela palmeira do viajante, "Ravinala" e a árvore do baobá. Terra de discípulos missionários e testemunhas da fé em Jesus Cristo até ao martírio, no qual os Santos são uma alta expressão. Eles podem ser vistos no logo, visitado pelo Papa Francisco, semeador de paz e esperança. A Paz e Esperança, são marcos para que os malgaxes sejam os arquitetos de um país baseado no autentico desenvolvimento e bem-estar espiritual e social. 
Imagem

Mapa de Moçambique: O Papa visita a nação moçambicana e a Igreja Católica em Moçambique.

Fotografia do Papa Francisco: uma imagem mais expressiva e voltada para o mapa, na expressão do amor que tem para com Moçambique e Pastor da Igreja de Cristo.

Pomba: simbolizando a paz que é muito necessária para Moçambique, pois se encontra a viver o momento de trégua do recente conflito militar e há situações de ataques a civis no Norte do país.

Duas mãos: simbolizam o acolhimento de Moçambique ao Papa e também da mensagem de “Esperança, Paz e Reconciliação”, que ele traz para o povo de Moçambique. 

Cores

As cinco cores da Bandeira de Moçambique: ladeando o mapa e uma faixa que sai da parte de baixo;

Verde: que está na mão e na inscrição exprime a esperança pelos melhores tempos para o povo moçambicano;

Vermelho: que está na mão e na inscrição exprime a necessidade da reconciliação entre o povo moçambicano;

Branca: exprime a paz, a religiosidade do povo moçambicano, a verdade e santidade do Sumo Pontífice.

Amarelo: a cor do Vaticano

CNBB e Cáritas Brasileira lançam SOS África: Moçambique, Zimbabué e Maláui


Por: SITE DA CNBB

Centenas de milhares de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone Idai que devastou territórios inteiros na África do Sul, no último dia 14 de março. Moçambique, Zimbaué e Maláui foram os países mais atingidos pela catástrofe que já é a pior da história enfrentada pela população destes países. Até o momento, pelo menos 656 perderam a vida, mas estima-se que esse número possa passar de mil. No cenário urgente de ajuda humanitária, cerca de um milhão e meio de pessoas estão desalojadas.

Para organizar a solidariedade brasileira com as populações atingidas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançam a campanha SOS África: Moçambique, Zimbabué e Maláui.

Os recursos arrecadados serão utilizados para ações de socorro imediato, água potável, alimentos, roupas, cobertores, kits de higiene, remédios, primeiros socorros e tendas, que serão coordenadas pela Cáritas Internacional, um organismo da Santa Sé. Com a solidariedade de cada pessoa, a Cáritas Internacional quer ainda ajudar na reconstrução de moradias e meios de vida das populações afetadas nos três países.

O SOS África: Moçambique, Zimbabué e Maláui conclama a sociedade brasileira, as dioceses, paróquias, comunidades, congregações religiosas, colégios e todas as pessoas de boa vontade, para uma grande corrente de oração e solidariedade em favor das pessoas atingidas por esta tragédia.

“Que o Deus da vida e da ternura derrame suas bênçãos sobre cada pessoa e comunidade pela colaboração e gesto amoroso, em favor das famílias de Moçambique, Zimbábue e Maláui”. Diz um trecho da carta assinada pelas presidências da CNBB e da Cáritas Brasileira, enviada para todas as paróquias do Brasil.

Três contas bancárias que são geridas pela Cáritas Brasileira estão disponíveis para doações. Favorecido Cáritas Brasileira CNPJ 33.654.419/0001-16:

Banco do Brasil 
Agência: 0452-9
Conta corrente: 49.667-7

Caixa Econômica Federal
Agência: 1041
Operação 003
Conta corrente: 432203

Banco Santander
Agência: 3100
Conta corrente: 12.061645-0

Serviço: Lançamento campanha SOS África: Moçambique, Zimbabué e Maláui
Data: 25 de abril de 2019.
Outras informações: Jucelene Rocha e-mail comunicacao@caritas.org.br – Tel e Whatsapp (11) 98694-1616 ou
Osnilda Lima e-mail osnilda@caritas.org.br – Telefone e Whatsapp (61) 98366-1235

sábado, 23 de março de 2019

Mais uma vez a África está de luto, chora e sofre, sem apoio e sem solidariedade: Sem petróleo, Moçambique tem 417 mortos, 90 mil desabrigados e nada de ajuda de militares dos EUA


A passagem do ciclone Idai no sudeste da África já deixou 417 mortos, 1.528 feridos e 89 mil pessoas salvas e recolhidas nos centros de acolhimento, em Moçambique. As informações foram divulgadas pelas autoridades locais nesta sexta-feira, 22. O secretário-geral da ONU, António Guterres, cobrou mais apoio da comunidade internacional a Moçambique.

Além de Moçambique, o ciclone atingiu o Zimbábue, Malawi e África do Sul. Em Moçambique, local mais atingido, são milhares de desabrigados, falta água e alimentos, é imenso o risco de doenças. 

Mesmo diante de mais essa tragédia que atinge o povo africano, não se ver clamor e solidariedade nos grandes meios de comunicação, nem tampouco ajuda solidária das grandes potencias econômicas mundiais.

Como em Moçambique não tem petróleo e outras riquezas naturais para a grande exploração, são esquecidos, abandonados e invisibilizados.

Nas redes sociais, não vemos expressões de lamento e tristeza, nem hashtag's em campanhas de solidariedade.

Ainda hoje, a África paga o preço de um racismo, preconceito e esquecimento que parece não ter fim.

Nossas orações e nossa esperança de que os povos atingidos possam sobreviver e reconstruir suas vidas.

Veja o vídeo:

Saiba mais:

sexta-feira, 22 de março de 2019

Uma ótima idéia que deve ser seguida por pais e mães negras: Pais fazem boneca com cachos para filha e a internet está amando o resultado


A pequena Hadassa, de 3 aninhos, tem pais extremamente criativos e que entendem a importância da representatividade.

Hadassa pediu para o Paulo e a Natalia uma boneca com cachinhos, como os que ela tem. Porém, sem dinheiro para comprar a boneca, eles tiveram a ideia brilhante de pegar uma boneca antiga e colar um cabelo orgânico que Natalia tinha em casa! A família mora no município de Cabedelo, Paraíba.

O casal só queria realizar o desejo da filhota, mas a boneca está fazendo o maior sucesso na internet. O tutorial que Paulo publicou o Facebook viralizou com 48 mil compartilhamentos. No Instagram, são mais de 3 mil curtidas e muitos comentários de pessoas parabenizando a atitude dos pais de Hadassa.

“Sua filha tem uma boneca única, não existe uma lindeza assim nas lojas, infelizmente!! Parabéns papai e mamãe”, comentou uma pessoa. “Eu nunca vi uma boneca tão linda, sério mesmo!”, disse outra pessoa. “Parabéns… a boneca ficou linda… assim como a filha de vcs… boneca única para uma criança única.. lindaaaaa”, parabenizou uma terceira.



quinta-feira, 21 de março de 2019

No Brasil do Racismo e do Preconceito - Excursão de escola pública é barrada em shopping de SP e educadora diz que houve discriminação

Alunos da rede pública de escolas da zona rural de Guaratinguetá foram barrados em entrada de shopping — Foto: Arquivo Pessoal/Jozeli Gonçalves

Cerca de 120 alunos de escolas da zona rural de Guaratinguetá (SP) foram a shopping em São Paulo para uma exposição. Diretora diz que funcionária alertou que o grupo teria problemas com a segurança do espaço, um 'shopping de elite'. JK Iguatemi diz que não compactua com a conduta.

Por Poliana Casemiro, G1 Vale do Paraíba e Região

Um grupo de crianças de escolas da zona rural de Guaratinguetá teve o acesso barrado a um shopping na Vila Olímpia, zona nobre da cidade de São Paulo. Os cerca de 120 alunos, com idades entre seis e 10 anos, foram ao local para ver uma exposição em um espaço dentro do complexo de compras. Segundo uma das organizadoras do passeio, uma funcionária impediu inicialmente o ingresso dos alunos com a alegação que o local é 'um espaço de elite'. A entrada foi permitida após negociação.

Os alunos, que ganharam a viagem após uma premiação por mérito, saíram de ônibus de quatro bairros de Guaratinguetá na última segunda-feira (18). Eles foram visitar a exposição ‘Mickey 90 anos’, no shopping JK Iguatemi. O passeio foi um presente às crianças pelo bom desempenho nas aulas.

Segundo a diretora de uma das escolas, Jozeli Gonçalves, o grupo já tinha os ingressos previamente para a exposição às 14 horas, mas decidiram chegar duas horas mais cedo para incluir no passeio um almoço em uma rede de fast food.

De acordo com Jozeli, ao chegarem ao local, enquanto uma fila era organizada pelas educadoras na porta do shopping, uma mulher, que segundo a educadora era funcionária do shopping, abordou as professoras e informou que o local não poderia acomodar aquela quantidade de alunos e que o espaço 'é de elite’.

O empreendimento disse em nota que não compactua com a mulher e que ela é colaboradora da mostra. A Orientavida, responsável pela mostra, classificou o fato como isolado e pontual e informou que a funcionária foi desligada. (leia mais abaixo)

“Nós fomos com crianças que nunca tinham ido a um shopping, que só viam fast food pela televisão. Era para ser um dia especial, mas esbarramos no preconceito. A funcionária pediu que fôssemos a uma lanchonete na esquina do shopping e ainda justificou que poderíamos ter problemas com a segurança do espaço porque o shopping era considerado de elite”, contou a diretora ao G1.

A diretora Jozeli comanda a escola municipal Francisca de Almeida, no bairro Pedrinhas. Os alunos da escola onde ela atua levaram cerca de cinco horas até São Paulo - a comunidade onde as crianças moram é distante da região urbana de Guaratinguetá.

Ela contou que a comunidade e os pais das crianças se mobilizaram para custear a alimentação do grupo de alunos e o dia em São Paulo. O deslocamento de ônibus para exposição foi custeado pela prefeitura. Já os ingressos haviam sido doados pela ONG Orientavida à administração e repassados às escolas.

“Nós ficamos cerca de vinte minutos tentando mediar a situação até que acionamos a Secretaria de Educação do município, que articulou com a organizadora da exposição a liberação da nossa entrada. Nisso, parte dos alunos já tinha deixado o local para comer fora do shopping mesmo. Começamos a notar que os alunos maiores tinham percebido que estavam sendo barrados e não queríamos isso”, disse.

Para ela, o grupo foi discriminado social e racialmente, já que parcela das crianças são negras.

Após a negociação, o acesso foi liberado e parte dos alunos da excursão comeu no shopping. O restante do grupo só foi ao local mais tarde próximo ao horário da exposição.

“São alunos de comunidades carentes, da zona rural e com poucas oportunidades. Essa já é a realidade deles. O que sentimos ali é que essa segregação que eles já enfrentam foi repetida. Mas nós entramos e insistimos porque somos agentes transformadores e queríamos mostrar que eles têm espaço. Vê-los encantados até com a escada rolante não teve preço”, contou Jozeli.

O que dizem os citados

Em nota, a Secretaria de Educação de Guaratinguetá informou que “repudia racismo e qualquer forma de discriminação, e continua acompanhando e apoiando educadores e alunos nas providências que julgarem necessárias”.

O shopping JK Iguatemi informou que a exposição é organizada pela equipe da ONG Orientavida, cuja responsável foi acionada pelo estabelecimento para que reforce o treinamento com sua equipe de recepcionistas.

"O empreendimento reforça que não compactua com a atitude tomada pela colaboradora da mostra e ressalta que trabalha continuamente para que todos os clientes sempre se sintam acolhidos e bem-vindos", diz trecho da nota do shopping.

A ONG Orientavida, responsável pela exposição, classificou o fato como isolado e pontual. Afirmou que tem recebido gratuitamente crianças de escolas públicas e comunidades carentes e esse foi o único incidente.

A ONG informou ainda que tomou as medidas necessárias para que o fato não se repita e que a funcionária foi desligada.

São Paulo é o estado com mais denúncias de racismo no Disque 100

Protesto contra racismo no Mackenzie, em São Paulo, em 2018 – Coletivo AfroMack:Divulgação

Canal do governo federal registrou 615 ligações com esse teor em 2018

por Monica Bergamo no Folha de São Paulo
As denúncias de crime de racismo recebidas pelo Disque 100 aumentaram no primeiro bimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2018: foram 113 casos registrados, contra 91 do bimestre passado.
RANKING

No total, foram feitas 615 denúncias de racismo em 2018. Os estados que apresentaram a maior quantidade foram São Paulo (63), Rio de Janeiro (48) e Bahia (34).
RANKING 2

O balanço será divulgado pela Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do ministério da ministra Damares Alves.
LINHA DIRETA

O Disque 100 funciona 24 horas por dia, inclusive aos sábados, domingos e feriados.

ONU e a luta contra a discriminação racial


Movimentos extremistas racistas baseados em ideologias que buscam promover agendas populistas e nacionalistas estão se espalhando em várias partes do mundo, alimentando o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlata, muitas vezes visando migrantes e refugiados, bem como pessoas afrodescendentes.

Da ONU

Em sua mais recente resolução sobre a eliminação do racismo, a Assembleia Geral das Nações Unidas reiterou que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e têm o potencial de contribuir construtivamente para o desenvolvimento e o bem-estar de suas sociedades.

A resolução também enfatizou que qualquer doutrina de superioridade racial é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa e deve ser rejeitada, assim como teorias que tentam determinar a existência de raças humanas segregadas.

A relatora especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata, E. Tendayi Achiume, em seu recente relatório sobre o populismo nacionalista, analisou a ameaça representada pelo populismo nacionalista aos princípios fundamentais de direitos humanos de não discriminação e igualdade.

A relatora condenou o populismo nacionalista que promove práticas e políticas excludentes ou repressivas que prejudicam indivíduos ou grupos com base em sua raça, etnia, nacionalidade e religião, ou outras categorias sociais relacionadas.

Em seu relatório sobre a glorificação do nazismo online, Achiume identificou tendências recentes e manifestações de glorificação do nazismo, neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar as formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata.

Ela destacou as obrigações dos Estados sob o direito internacional dos direitos humanos para combater essas ideologias extremas online, bem como as responsabilidades das empresas de tecnologia à luz dos princípios dos direitos humanos.

A ONU marca todo ano, no dia 21 de março, o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial.

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período entre 2015 a 2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes. Dessa forma, a comunidade internacional reconhece que os povos afrodescendentes representam um grupo distinto cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos.

Cerca de 200 milhões de pessoas autoidentificadas como afrodescendentes vivem nas Américas. Muitos outros milhões vivem em outras partes do mundo, fora do continente africano. Confira notícias e visite o site oficial: http://decada-afro-onu.org.

No Brasil, a ONU promove a campanha “Vidas Negras”, reafirmando o compromisso de implementação da Década Internacional de Afrodescendentes.

A iniciativa busca ampliar, junto à sociedade, gestores públicos, sistema de Justiça, setor privado e movimentos sociais, a visibilidade do problema da violência contra a juventude negra no país. O objetivo é chamar atenção e sensibilizar para os impactos do racismo na restrição da cidadania de pessoas negras, influenciando atores estratégicos na produção e apoio de ações de enfrentamento da discriminação e violência. Saiba mais em http://vidasnegras.nacoesunidas.org.

Além disso, a ONU mantém um programa sobre a memória do escravidão:clique aqui e saiba mais. Outros programas da ONU tratam sobre as memórias do Holocausto e do genocídio em Ruanda.

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PJMP dá início a retomada da caminhada na Diocese de Floresta-PE


No sábado 16/03/2019, realizou-se em Jatobá-PE (Paróquia de Nossa Senhora Aparecida), a reunião de rearticulação da caminhada da PJMP-Pastoral da Juventude do Meio Popular, na Diocese de Floresta-PE.

O encontro se deu na Aldeia Indígena do Povo Pankararu, o que simbolizou a retomada da PJMP a partir da realidade local e com raízes na luta dos povos indígenas e tradicionais.

Estiveram presentes, além do grupo de Jatobá, com membros(as) históricos da PJMP e novos(as) integrantes dessa retomada, o Cacique Zé Alto, líder indígena da Tribo Pankararu, o Padre Alberto, responsável pela Pastoral Indígena na Diocese de Floresta, bem como o Secretário Regional da PJMP do Nordeste 2, Carlos Medrado, juntamente com a CNPJMP de Pernambuco, Alice Gericó, os quais acompanharam todo o encontro e se mostraram animados(as) com a expectativa positiva desse novo momento. 

O encontro foi cheio de riqueza espiritual, anseios, ardores, luta por dia melhores para a juventude e comunidade onde vivem, e a presença maior de Jesus Cristo Libertador, afirmou o Secretário Regional Carlos Medrado. 

"O encontro nos mostrou a importância da retomada da PJMP na Diocese de Floresta, o quão bom é ver a preocupação do jovens com as questões da sociedade, mas também a vontade de estarem próximos a igreja e a Cristo Libertador." Disse Padre Alberto.

"Vamos juntos com muita ternura e resistência. Gratidão a Coordenação Regional da PJMP do Nordeste 2 e a Coordenação Nacional da PJMP que acendem essa lamparina com a gente.." Disse a militante da PJMP, Eva Wilma.

A retomada da caminhada da PJMP na Diocese de Floresta-PE, está sendo bem recebida pelo Bispo Dom Gabriel Marchesi, que se mostrou esperançoso com a decisão dos(as) jovens de Jatobá.

sábado, 9 de março de 2019

A brasileira que era chamada de “mulher do diabo” por ter senso de justiça


Por Maria Fernanda Garcia - Observatório do 3º Setor

Leolinda Figueiredo Daltro nasceu na Bahia, em 14 de julho de 1859, foi professora, sufragista e indigenista, e lutou pela autonomia das mulheres.

Em 1910, juntamente com outras mulheres, fundou o Partido Republicano Feminino. Em 1917, liderou uma passeata exigindo a extensão do direito ao voto às mulheres.

O senso de justiça de Leolinda a fez ficar conhecida como “a mulher do diabo” em 1909. No Brasil fervorosamente católico da época, uma mulher desquitada, ativa politicamente, que circulava em ambientes masculinos, acreditava na transformação pela educação e lutava para garantir o direito das mulheres ao voto não poderia ser considerada outra coisa senão “diabólica”.

Como era costume na época, casou-se cedo e teve dois filhos. Porém, logo separou-se do marido, encontrando uma motivação para estudar para ser professora e ajudar nas economias de casa. Aos 24 anos, casou-se novamente e mudou-se para o Rio de Janeiro “em busca de melhores condições de vida”. Com o novo marido, Leolinda teve mais três filhos. Logo após sua ida para o Rio de Janeiro, Leolinda se separou ou ficou viúva, não se sabe ao certo.

Fundou o Partido Republicano Feminino com a poetisa carioca Gilka Machado em 1910, bem como três jornais dedicados à mulher, além de publicar dois livros nos quais contou aspectos de sua vida. Por mais de dez anos, Leolinda e suas companheiras de partido criticaram a cidadania incompleta das mulheres e participaram de todos os eventos que podiam ter repercussão na imprensa.

Além disso, Leolinda percorreu o interior do Brasil a fim de estimular a alfabetização laica de comunidades indígenas, uma vez que o sistema vigente na época era de catequização e conversão ao catolicismo.

Em 1902, em uma viagem ao sertão de Goiás, procurou o Instituto Histórico Brasileiro para propor a criação de uma associação civil de amparo aos indígenas. Daltro foi impedida de participar pessoalmente da reunião sob a alegação de que era mulher.

A partir de 1890, o voto deixou de ser considerado como um símbolo e passou a ser visto como uma chave para mudanças. As sufragistas diziam que as vidas das mulheres não melhorariam até que os políticos colocassem seus olhos no eleitorado feminino. A luta pelo direito de voto era um meio para atingir um fim.

Em 1913, os jornais deram ampla publicidade ao movimento das suffragettes, quase sempre reforçando que este não era um comportamento que as brasileiras deveriam seguir.

Na década de 1930, Leolinda ainda estava ativa na luta pela emancipação feminina, fazendo parte da Aliança Nacional de Mulheres. Leolinda, na maioria das vezes, foi mal compreendida e teve que suportar piadas e zombarias em relação à sua luta.

Ela não queria revolucionar o papel da mulher na sociedade. O objetivo era reformar seu papel, integrando a mulher de forma mais justa e igualitária na sociedade brasileira e dando oportunidades para que as mulheres fizessem parte da vida pública. Ela também procurou reformar as leis para que as mulheres brasileiras atuassem de forma igualitária à dos homens, com as mesmas oportunidades e direitos.

Leolinda foi uma das pioneiras da luta pelos direitos das mulheres no Brasil. E até hoje lutas como a dela seguem necessárias, já que as mulheres trabalham e estudam mais, mas continuam ganhando menos que os homens no país.

Mangueira vence o carnaval mostrando a verdadeira História do Brasil


Por Maria Fernanda Garcia - Observatório do 3º Setor

A Estação Primeira de Mangueira venceu o carnaval do Rio de Janeiro mostrando a verdadeira História do Brasil. Heróis esquecidos dos livros de História e lembrados nas matérias e no quadro ‘Você Conhece?’ do Observatório do Terceiro Setor foram destaque no samba-enredo da escola.

A escola falou de líderes como Luiz Gama, advogado abolicionista; Luíza Mahin, ativista participante da revolta dos Malês; e Dandara, líder quilombola esposa de Zumbi dos Palmares, e tratou de temas como as revoltas indígenas. Chico da Matilde, conhecido como Dragão do Mar, um jangadeiro do Ceará que se recusou a transportar escravos e com isso ajudou o estado a abolir a escravidão quatro anos antes do resto do Brasil, também foi lembrando pela escola. A comissão de frente retratou os “grandes nomes da História nacional” que, na verdade, têm um caminho forjado por sangue.

A escola mostrou que o descobrimento do Brasil não foi tão pacífico como contam os livros de História do país. Indígenas foram escravizados e assassinados pelos colonos. Os Bandeirantes, que nos livros são considerados heróis, na verdade eram assassinos, que dizimaram aldeias, estupraram mulheres indígenas e escravizaram os habitantes nativos. Sepé Tiaraju, um guerreiro indígena que morreu com 1500 índios lutando pelo Brasil e foi esquecido pelos livros de História, foi lembrado como herói do país.

Os carros alegóricos trouxeram frases como “Ditadura Assassina”, mostraram ex-presidentes como Floriano Peixoto pisando em cadáveres e apresentaram os Bandeirantes como gananciosos que mataram e escravizaram índios em busca de ouro.

A Mangueira também homenageou a vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada há cerca de um ano, e cuja morte até agora não foi esclarecida. O nome da vereadora foi citado no samba-enredo e no final do desfile: uma das últimas alas trouxe diversas bandeiras com o rosto da vereadora em verde e rosa (as cores da agremiação). A arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle, esteve presente na passarela, usando uma camiseta com os dizeres “Lute como Marielle”.

A bateria da verde e rosa levantou o público ao utilizar instrumentos característicos de religiões de matriz africana. A ação foi pensada não apenas pela sonoridade, mas também pelo tom político e social do desfile de 2019, buscando valorizar a cultura afro e criticar o preconceito contra as religiões afrodescendentes.

A Mangueira levantou o público e deu uma verdadeira aula de História na Sapucaí, mostrando a verdade por muitos anos mascarada para o Brasil e o mundo.

Mais um crime sendo cometido - 190 mil crianças de 5 a 13 anos trabalham no Brasil


Por Maria Fernanda Garcia - Observatório do 3º Setor

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016, 1,8 milhão de crianças de 5 a 17 anos trabalhavam no Brasil. Desse total, 998 mil (54%) estavam em situação de trabalho infantil, ou porque tinham de 5 a 13 anos (190 mil pessoas), ou porque, apesar de terem de 14 a 17 anos, não possuíam o registro em carteira (808 mil) exigido pela legislação. Os dados estão no último módulo temático da PNAD Contínua sobre Trabalho Infantil.

O trabalho infantil é aquele realizado por crianças com idade inferior à mínima permitida pela legislação em vigor. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 permite o trabalho a partir dos 16 anos, exceto nos casos de trabalho noturno, perigoso ou insalubre, nos quais a idade mínima é de 18 anos. A Constituição admite, também, o trabalho a partir dos 14 anos, mas somente na condição de aprendiz.

Em média, 81,4% das crianças de 5 a 17 anos ocupadas estavam estudando. A situação de ocupação tende a interferir mais na escolarização das crianças mais velhas: 98,4% das ocupadas de 5 a 13 anos estavam na escola, contra 98,6% das não ocupadas, enquanto no grupo de 14 a 17 anos, 79,5% das que trabalhavam também estudavam, contra 86,1% das não ocupadas.

A agricultura era o principal grupamento de atividade das crianças ocupadas de 5 a 13 anos, concentrando 47,6% delas. Já para os ocupados de 14 a 17 anos, a principal atividade era o comércio, concentrando 27,2% deles. Além disso, enquanto 66% do grupo de 14 a 17 estavam ocupados na condição de empregado, 73% das crianças de 5 a 13 anos eram trabalhadores familiares auxiliares. Entre os ocupados de 5 a 13 anos, apenas 26% recebiam remuneração.

Brasil registra 63.895 mortes violentas intencionais em um ano



As maiores taxas de violência são dos estados do Rio Grande do Norte, Acre e Ceará 

Por: Isabela Alves

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ocorreram 63.895 mortes violentas intencionais no Brasil em 2017. Ou seja, foram 175 mortes por dia. As maiores taxas de violência por 100 mil habitantes são dos estados do Rio Grande do Norte (68,0), Acre (63,9) e Ceará (59,1).

O relatório aponta que ocorreram 55.900 casos homicídios dolosos, 2.460 latrocínios e 955 lesões corporais seguidas de morte. Ainda foi destacado que, em média, um policial civil ou militar foi assassinado por dia em 2017, enquanto 14 pessoas foram mortas por dia em intervenções policiais.

Em relação aos crimes nas capitais, ocorreram 16.799 mortes violentas intencionais, ou seja, a taxa é de 34 para cada 100 mil habitantes. As capitais que registraram as maiores taxas foram Rio Branco (AC), com 83,7; Fortaleza (CE), com 77,3; e Belém (PA), com 67,5. Também foram registrados 82.684 casos de desaparecimento em 2017.

O documento destacou, ainda, números alarmantes sobre a violência contra a mulher no país. Segundo o anuário, em 2017, ocorreram 61.032 estupros no país e 1.133 casos de feminicídio. Além disso, 606 casos de violência doméstica foram registrados por dia.

Dia Internacional da Mulher – mais dores do que flores


Se as operárias russas do início do século XX recebessem bombons e flores em comemoração ao Dia da Mulher, talvez se sentissem ofendidas. Afinal, quando os protestos do dia 8 de março foram deflagrados, o que elas queriam mesmo eram melhores condições de trabalho. Não aguentavam mais as jornadas de 14 horas e os salários até três vezes menores que os dos homens.

Na época, as fábricas dos países desenvolvidos, que fazia pouco mais de um século haviam passado pela Revolução Industrial, estavam atulhadas de homens, mulheres e crianças. O movimento operário reagia à exploração desenfreada organizando protestos, muitos com cunho socialista. Entre as reivindicações, o fim do emprego infantil e remuneração adequada. A igualdade de gênero, porém, nunca era pautada. Por mais que as trabalhadoras argumentassem, sua renda era vista como complementar à do marido ou pai, e um pedido de salários iguais parecia afetar as “exigências gerais”. É nesse contexto de eclosão popular, sindical e feminista que surge o Dia Internacional da Mulher.

Os Estados Unidos foram, sem dúvida, um dos palcos dessa luta. Desde meados do século XIX, os operários organizavam greves para pressionar os proprietários das indústrias, principalmente as têxteis. Em terras americanas foi registrado o primeiro Dia da Mulher, em 3 de maio de 1908. Segundo o jornal The Socialist Woman, “1.500 mulheres aderiram às reivindicações por igualdade econômica e política no dia consagrado à causa das trabalhadoras”. No ano seguinte, a data foi oficializada pelo partido socialista e comemorada em 28 de fevereiro. Em Nova York, reuniu cerca de 3 mil pessoas em pleno centro da cidade, na ilha de Manhattan.

A celebração foi mais um dos elementos no caldo político que irrompeu na greve geral dos trabalhadores do vestuário, em sua maioria mulheres jovens, em novembro de 1909. A paralisação durou 13 semanas e provocou o fechamento de mais de 500 fábricas de pequeno e médio portes. As condições de trabalho, no entanto, não melhoraram muito. Os proprietários das indústrias continuavam forçando o cumprimento de jornadas massacrantes. Para evitar que seus empregados saíssem mais cedo, boa parte deles trancava as portas durante o expediente e cobria os relógios de parede.

Em 1911, ocorreu um episódio marcante, que ficou conhecido no imaginário feminista como a consagração do Dia da Mulher: em 25 de março, um incêndio teve início na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York. Localizada nos três últimos andares de um prédio, a fábrica tinha chão e divisórias de madeira e muitos retalhos espalhados, formando um ambiente propício para que as chamas se espalhassem. A maioria dos cerca de 600 trabalhadores conseguiu escapar, descendo pelas escadas ou pelo elevador. Outros 146, porém, morreram. Entre eles, 125 mulheres, que foram queimadas vivas ou se jogaram das janelas.

As portas de saída da fábrica trancadas por motivos anteriormente descritos alimentaram no imaginário popular a ideia de que os patrões teriam propositadamente causado o incêndio a fim de por fim às greves. Mais de 100 mil pessoas participaram do funeral coletivo.

O Dia da Mulher é associado continuamente à história de uma greve, que ocorreu em Nova Iorque, em 1857, na qual 129 operárias morreram depois dos patrões terem incendiado a fábrica ocupada. Entretanto, esse marco é controverso. A primeira citação a essa greve, sem nenhum dos detalhes que serão acrescentados posteriormente, aparece no jornal do Partido Comunista Francês, na véspera do oito de Março de 1955.

A canadense Renée Côté pesquisou dez anos, em todos os arquivos da Europa, Estados Unidos e Canadá e não encontrou nenhum rastro da greve de 1857. Nem nos jornais da grande imprensa da época, nem em qualquer outra fonte de memórias das lutas operárias.

Ela afirma que essa greve nunca existiu. É um mito criado por causa da confusão com as greves de 1910; de 1911, nos EUA; e 1917, na Rússia. Essa miscelânea se deu por motivos históricos políticos, ideológicos e psicológicos.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra – em um protesto conhecido como “Pão e Paz” – que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Recapitulando:

1900-1907: Movimento das Sufragistas pelo voto feminino nos EUA e Inglaterra.

1908: Em Chicago (EUA), no dia 3 de maio, é celebrado, pela primeira vez, o Woman´s Day. A convocação é feita pela Federação Autônoma de Mulheres.

1909: Greve geral dos trabalhadores do vestuário, paralisação durante 13 semanas e provocou o fechamento de mais de 500 fábricas de pequeno e médio portes

1910: A terceira edição do Woman”s Day é realizada em Chicago e Nova Iorque, chamada pelo Partido Socialista, no último domingo de fevereiro.

1911: Durante uma nova greve de tecelãs e tecelões, em Nova Iorque, morrem 134 grevistas, a causa de um incêndio devido a péssimas condições de segurança.

1917: No dia 8 de Março de 1917 (27 de fevereiro no calendário russo) estoura uma greve das tecelãs de São Petersburgo. Esta greve gera uma grande manifestação e dá início à Revolução Russa.

Resultado de todo esse processo, em 1975 comemorou-se o Ano Internacional da Mulher e, em 1977, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Fruto de décadas de batalhas e séculos de opressão, a data que lembra a necessária igualdade entre homens e mulheres foi mundialmente – e finalmente – assegurada.

FONTES:

http://www.jornalpraiadacosta.com.br/Noticias-Datas/o-mito-de-1857-como-surgiu-o-dia-internacional-da-mulher.html

A trajetória intelectual ativista de Beatriz Nascimento


Abordar a trajetória de Beatriz Nascimento para a revista Eparrei! tem uma dupla exigência. É necessário indicar qual o propósito de um homem negro que pesquisa relações de gênero e raça. O encontro com o feminismo negro, com os textos de autoras ativistas brasileiras e estadunidenses, tem provocado uma viagem sem volta na minha construção de pessoa e na formação intelectual. Além disso, devo dizer que escrever acerca de uma mulher negra é um exercício de interagir com sua voz, e não tentar sobrepô-la ou substituí-la (o que tem sido habitual numa sociedade racista e sexista). Não conheci pessoalmente Beatriz Nascimento e a pesquisa que realizo tem como cerne a sua obra, ou seja, seus textos escritos (alguns inéditos) e narrados (a exemplo de comunicações transcritas ou da participação em documentários). Os levantamentos são efetuados no Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo, no Arquivo Nacional e com a colaboração da família de Beatriz Nascimento e de acervos particulares de ativistas negras(os). Cabe afirmar que o presente artigo não resulta, de forma alguma, de um olhar distante e impessoal. Estou diante de alguém que me convence, me comove e, poucas vezes, me leva a discordâncias.

Por Alex Ratts

Caminhos percorridos

Maria Beatriz Nascimento nasce em Sergipe, em 12 de julho de 1942, filha de Rubina Pereira do Nascimento e Francisco Xavier do Nascimento, um pedreiro e uma “dona de casa”, que tiveram, ao todo, dez filhos. A família migra para a cidade do Rio de Janeiro em 1950. Enquanto estudiosa, pesquisadora, ativista e autora, Beatriz pode ser focalizada, sobretudo, entre 1968 e 1971, quando cursa História na Universidade Federal do Rio de Janeiro. No mesmo período, faz estágio em Pesquisa no Arquivo Nacional, com orientação do historiador José Honório Rodrigues. Posteriormente, torna-se professora de História da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro.

Em 1974, Beatriz Nascimento publica Por uma história do homem negro (Revista de Cultura Vozes. 68(1), pp. 41-45), um texto/proposição que tem como tema principal a flagrante despreocupação da academia brasileira com os temas vinculados à história da população negra, no máximo, reduzidos aos genéricos estudos da escravidão. Neste artigo, Beatriz parte de uma forte motivação que excede preocupações de uma pesquisadora restrita aos muros universitários, se pronuncia como historiadora negra, portanto como vinculada diretamente ao chamado “objeto de estudo”. No mesmo ano, a referida revista veicula outro artigo seu (Negro e Racismo, Revista de Cultura Vozes. 68 (7), 1974, p. 65-68) no qual a autora comenta e reage a idéias recorrentes na sociedade brasileira e, inclusive, no pensamento acadêmico de que há uma única maneira de ser negro, de definir a “cultura negra” e de reduzir à participação negra na formação brasileira a “contribuições”.

Nesse período, Beatriz Nascimento participa no Rio de Janeiro de um grupo de ativistas negras(os) que acabam por formar vários núcleos de estudos no estado, dentre eles o Grupo de Trabalho André Rebouças na Universidade Federal Fluminense, do qual ela se torna orientadora. O GTAR se constitui num grupo de estudantes negras(os) de vários cursos que tinha, dentre seus objetivos, o propósito de introduzir e ampliar principalmente na universidade conteúdos acerca das relações raciais no Brasil, almejando o envolvimento do corpo docente (GTAR – Em busca de um espaço. Estudos Afro Asiáticos 8-9, 1983). Na Quinzena do Negro, realizada em outubro de 1977, na Universidade de São Paulo, Beatriz Nascimento aparece como conferencista, já em processo de reconhecimento público de seus estudos acerca da questão étnico-racial, em especial dos quilombos.

No ano seguinte Beatriz dá início ao curso de especialização (pós graduação latu sensu) em História na Universidade federal Fluminense, que conclui em 1981, com a pesquisa Sistemas alternativos organizados pelos negros: dos quilombos às favelas. Este projeto obtém financiamento parcial da Fundação Ford e da Casa Leopold Senghor do Senegal e tem como objetivo principal estabelecer a possível continuidade dos quilombos com favelas em determinadas cidades brasileiras, a exemplo do Rio de Janeiro. Por força de restrições de financiamento e da própria extensão do tema, Beatriz reduz hipóteses e se detém na viagem a Angola (onde se situavam os quilombos africanos) e no trabalho de campo em áreas passíveis de identificação como “antigos quilombos”, especialmente em Minas Gerais (Kilombo e memória comunitária – um estudo de caso. Estudos Afro-Asiáticos 6-7, pp. 259-265, 1982).

Territorialidade, corporeidade e identidade

Inúmeros temas “acadêmicos” nascem fora dos muros universitários ou ganham contornos diferenciados quando desenvolvidos por sujeitos diretamente envolvidos com a temática: gênero discutido por sobretudo mulheres, raça pensada por sobretudo negras(os), etc.. É nesse contexto que ocorre o (re)aparecimento do quilombo. Para os movimentos negros de vários períodos do século XX o quilombo era um dos grandes temas: permeava a ação política, a pesquisa acadêmica e as atividades artísticas. Quilombo era palavra franca entre ativistas dos movimentos negros na década que se estende entre 1978 e 1988 (O conceito de quilombo e a resistência cultural negra. Afrodiáspora Nos. 6-7, pp. 41-49, 1985).

Beatriz Nascimento, sobretudo no filme Ori, alia a reflexão acerca de territorialidade com corporeidade. Para ela o corpo negro se constitui e se redefine na experiência da diáspora e na transmigração (por exemplo, da África para a América, da senzala para o quilombo, do campo para a cidade, do Nordeste para o Sudeste). Neste tema, a encontramos discorrendo acerca da sua própria imagem, da “perda da imagem” que atingia africanas(os) escravizados(as) e descendentes em diáspora. O corpo negro pode ser, então, que procura e constrói lugares de referência transitórios (o baile black, a escola de samba) ou duradouros (a casa de culto afro-brasileiro ou o quilombo). A chamada “cultura negra” recriada estendia-se pelo que ela denominava de transatlanticidade nas relações América, Europa e África.

Beatriz também escreveu acerca da situação das mulheres negras no Brasil, de sua condição social inferior devida ao amálgama de heranças escravistas com mecanismos racistas (A mulher negra no mercado de trabalho. Jornal Última Hora, Rio de Janeiro, 25/07/1976) e à perpetuação de estereótipos no imaginário nacional, especialmente no cinema (A senzala vista da casa grande. Jornal opinião, 5 de outubro de 1976, p. 20-21). É no artigo A mulher negra e o amor (Jornal Maioria Falante, No 17, fevereiro a março de 1990, p. 3.) que Beatriz Nascimento enuncia a discriminação de raça e de sexo que atinge as mulheres negras de vários ângulos e as marca de maneira específica o campo afetivo. Em 1987 ela é agraciada com o título de Mulher do Ano 1986, pelo Conselho Nacional de Mulheres no Brasil.

Esquecimento e rememoração

Beatriz Nascimento é assassinada em 28 de janeiro de 1995, quando defendia uma amiga que tinha um companheiro violento. Cursava, então, mestrado na Escola de Comunicação da UFRJ. Seus projetos foram interrompidos abruptamente. Apesar de ter uma produção que se estende ao longo de 20 anos, entre 1974 e 1994, e de alcançar relativa visibilidade intelectual e política em vida, a exemplo do que acontece com Lélia Gonzalez, Eduardo Oliveira e Oliveira, Hamilton Cardoso e outras(os) de sua geração, Beatriz Nascimento não se torna uma autora reconhecida nos círculos hegemônicos dos estudos raciais no Brasil. Lida, comentada e rememorada sobretudo por autoras(es) negras(os), a “volta” aos seus textos não se deve fazer somente por um esforço de reverência.

Há que se reconhecer que, como uma das protagonistas, ela palmilha, sedimenta e constrói em grande parte o espaço que hoje alcançamos nas questões étnico-raciais: a realização e ampliação dos estudos raciais por pesquisadoras(es) negras(os); a presença negra discente e docente nas universidades; a história da população negra brasileira e seus vínculos diversos e contraditórios com as sociedades africanas; a interrelação entre temas como identidade, raça, sexo, corpo, cultura e espaço; a correlação, nem sempre afinada, entre pensamento e ativismo negros. Para criticá-la em sua busca de uma verdade histórica (que é, de fato, uma disputa de interpretações com a historiografia hegemônica) e do tratamento aparentemente essencialista de certos temas (que ela muitas vezes relativiza), devemos lê-la e ouvi-la em primeiro lugar.

Aquela que, em suas palavras dizia “eu sou atlântica”, que se sentia “alta” na Serra da Barriga e cujo “espírito inquieto” caminhava por “sendas errantes”, aquela que escrevia com sensatez e com veemência, torna-se uma referência para quem trilha em se desloca entre raízes e rotas correlatas, merecendo uma homenagem à sua altura: o reconhecimento da obra, dos posicionamentos, das idéias e da pessoa.

• Professor do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, coordenador do Núcleo de Estudos Africanos e Afro-Descendentes (NEAAD/UFG).

•• Publicado originalmente em: Revista Eparrei, No. 8. Santos: Casa de Cultura da Mulher Negra, 2005, p.49 – 51.