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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Terra Indígena Raposa Serra do Sol é invadida por garimpeiros

Demarcação foi homologada em 2005 pelo ex-presidente Lula, e em 2009 reafirmada pelo Supremo Tribunal Federal
POR Rede Brasil Atual
Expectativa de que Bolsonaro legalize o garimpo em Terra Indígena faz com que invasores se sintam legitimados
São Paulo – Centenas de garimpeiros estão atuando ilegalmente na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, desde dezembro do ano passado. A invasão ocorre na área que fica no município de Normandia, na fronteira com a Guiana. Os invasores utilizam grande estrutura de maquinaria, com escavadeiras e moinhos trituradores. Segundo as lideranças indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR) avaliam que a ação está ligada a promessa do presidente da República, Jair Bolsonaro, de liberar o garimpo nas terras dos povos originários. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Segundo as lideranças, o garimpo ilegal está provocando estragos ambientais, com a poluição de lagos e igarapés para lavagem de pedras, além de divisões internas, com o aliciamento e exploração de indígenas. O CIR afirma que os donos das máquinas são não indígenas e que o local já é cenário de prostituição, uso de bebidas alcoólicas e outras drogas. As lideranças também acusam que houve roubo de gado. A vegetação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol não é formada por florestas, permitindo a pecuária sem desmatamento.
O conselho informou que já protocolou denúncias nos órgãos competentes, mas nada foi feito. Como a região é de fronteira, o Exército é o principal agente do Estado na região.
A demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol foi realizada há 11 anos. Dois dos principais nomes do governo federal hoje foram inimigos declarados da medida: o presidente e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Bolsonaro se opôs à demarcação desde que era deputado federal. Em dezembro de 2018 declarou que iria rever a demarcação. As três cidades que formam a área votaram em peso em Fernando Haddad (PT).
No mês passado, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), aliado de Bolsonaro, esteve no garimpo ilegal, onde gravou um vídeo ao lado de indígenas que apoiariam a atividade. No filme ele diz que o garimpo “é um trabalho fabuloso, onde dezenas, centenas de famílias estão aqui tirando da terra o que Deus nos deu como herança”.

Em 2019, 1.310 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil

Foto: Claudia Wolff (Unsplash)
Publicado Observatório do 3° Setor

Por: Mariana Lima
De acordo com um levantamento do jornal Folha de S. Paulo, o número de feminicídios cresceu 7,2% no Brasil em 2019. Em alguns estados, o aumento foi expressivo. No Amazonas e em Alagoas, os casos mais que dobraram.
A Folha consultou dados das 27 unidades da federação, chegando a 1.310 casos de mulheres que foram mortas vítimas da violência doméstica ou por sua condição de gênero no último ano.
Em 2018, foram registradas 1.222 mortes de mulheres por feminicídio. Assim, de acordo com os registros oficiais, em média, de três a quatro mulheres são vítimas de feminicídio por dia no Brasil, sendo a maioria morta por companheiros e ex-companheiros.
Em 2015, o feminicídio se tornou um qualificador do homicídio, elevando a pena de 6 a 20 anos para uma pena de 12 a 30 anos.
Os estados com maior aumento no número de casos de 2018 para 2019 foram: Amazonas (200%), Alagoas (120%), Amapá (75%), Roraima (50%), Santa Catarina (38%), São Paulo (34%), Bahia (33%) e Sergipe (31%).
Os estados com mais casos em 2019, em números absolutos, foram: São Paulo (182), Minas Gerais (136), Bahia (101) e Rio Grande do Sul (100).
A região sudeste é a que concentra o maior número de casos, indo de 397 em 2018 para 435 em 2019.

“O silêncio cúmplice diante da fome... Isto, sim, é um vírus mundialmente perigoso!”. Artigo de José María Castillo


Por 

fome. “Isto, sim, é um vírus mundialmente perigoso! E despachamos um problema tão sério dizendo que o Papa Francisco é ‘comunista’? Como é possível que nós, que nos consideramos, não digo ‘cristãos’, mas ‘seres humanos’, saibamos disso e sigamos vivendo tão tranquilos? Nós nos desumanizamos ou estamos loucos?”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 05-02-2020. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Os mortos pelo “coronavírus”, até o momento desse meu texto, foram 490. É claro, não é possível saber o número de vítimas que ainda poderá causar. Seja qual for o risco que terá no futuro, é um fato que já foram gastos milhares de dólares para controlar essa terrível ameaça global. E pelas informações que nos chegam, é necessário gastar o que for preciso. E é preciso continuar gastando para proteger a população mundial. Isto é evidente. E ninguém duvida disso. Sendo assim, todos concordamos em que aqueles que estão com o vírus sejam curados. E que seja pesquisado o que for necessário para controlar as consequências dessa ameaça mundial. Nisso, todos concordamos.
E, no entanto, neste momento, no mundo está ocorrendo algo muito mais grave, que, para nós que vivemos em países desenvolvidos, não importa e nem preocupa, da mesma forma como acontece com o “coronavírus”. Pela simples razão de que nós, que dirigimos ou nos beneficiamos da riqueza no mundo poderoso e rico, sabemos de sobra que de fome não iremos morrer. Isso é um fato, independente da explicação que cada um tenha para justificar ou suportar o que está acontecendo nessa ordem de coisas.
Em que consiste esse vírus tão perigoso, que nós, a grande maioria dos habitantes dos países desenvolvidos, desconsideramos (ou corremos o risco de desconsiderar)? É um fato que se sabe e ninguém duvida. Todos os dias, 8.500 crianças morrem de fome. É o que os organismos internacionais, que dependem da Organização das Nações Unidas, afirmam e nos garantem que é verdade.
Em todo caso, e independente das justificativas que podem ser feitas a respeito das coisas que acabo de dizer, o fato é que o “mundo rico” se distancia cada dia mais do “mundo pobre”. Isso não apenas é indiscutível, como também, sobretudo, é inevitável, caso queiramos que a economia mundial continue funcionando como convém aos habitantes dos países ricos e poderosos.
É assim que as coisas estão. E assim está o mundo em que vivemos. O Papa Francisco acaba de fazer essa constatação (em 05/02/2020), insistindo na responsabilidade que nós temos, como países que, por mais que nos queixamos, são os que administram o capitalismo mundial. O Papa foi muito claro e duro na denúncia que fez em relação aos que acumulam cada vez mais capital, todos os dias. Com a nossa aprovação ou o nosso silêncio cúmplice.
Isto, sim, é um vírus mundialmente perigoso! E despachamos um problema tão sério dizendo que o Papa Francisco é “comunista”? Como é possível que nós, que nos consideramos, não digo “cristãos”, mas “seres humanos”, saibamos disso e sigamos vivendo tão tranquilos? Nós nos desumanizamos ou estamos loucos?

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“O MUNDO ESTÁ CANSADO DE MENTIROSOS, DE PADRES DA MODA”, ALERTA PAPA FRANCISCO


Aos novos bispos do curso anual de formação, o papa afirma que fazer pastoral da misericórdia não é fazer liquidação de pérolas.

“Não poupem esforços para ir ao encontro do povo de Deus, estejam perto das famílias com fragilidade. Nos seminários, apontem para a qualidade, não para a quantidade. Desconfiem dos seminaristas que se refugiam na rigidez.”

“O mundo está cansado de encantadores mentirosos… e, eu me permito dizer, de padres ou bispos na moda. As pessoas ‘farejam’ e se afastam quando reconhecem os narcisistas, os manipuladores, os defensores das causas próprias, os arautos de cruzadas vãs.”

O Papa Francisco dirigiu um longo discurso aos bispos recém-nomeados, em Roma, para um curso de formação, tocando diversas questões do seu ministério, a partir da necessidade de tornar pastoral – “isto é, acessível, tangível, encontrável” – a misericórdia, que é o “resumo daquilo que Deus oferece ao mundo”.

Os bispos, disse Jorge Mario Bergoglio, devem ser capazes de encantar e de atrair os homens e as mulheres do nosso tempo a Deus, sem “lamentações”, sem “deixar nada de não tentado a fim de alcançá-los” ou “recuperá-los”, e graças aos percursos de iniciação (“Hoje, pedem-se frutos demais de árvores que não foram cultivadas o suficiente”).

Além disso, é necessário vigiar a formação dos futuros sacerdotes, apontando para a “qualidade do discipulado”, e não para a “quantidade” de seminaristas, e usando “cautela e responsabilidade” ao acolher sacerdotes na diocese.
Francisco também convidou os novos bispos a estarem perto do seu clero, àqueles que Deus coloca “por acaso” no seu caminho e às famílias com as suas “fragilidades”.

“Perguntem a Deus, que é rico em misericórdia – disse o papa aos 154 novos bispos (16 dos territórios de missão) que participaram do curso anual de formação promovido conjuntamente pela Congregação para os Bispos e pela Congregação para as Igrejas Orientais – o segredo para tornar pastoral a Sua misericórdia nas suas dioceses.

De fato, é preciso que a misericórdia forme e informe as estruturas pastorais das nossas Igrejas. Não se trata de rebaixar as exigências ou vender barato as nossas pérolas. Ou, melhor, a única condição que a pérola preciosa dá àqueles que a encontram é a de não poder reivindicar menos do que tudo.

Não tenham medo de propor a Misericórdia como resumo daquilo que Deus oferece ao mundo, porque o coração do homem não pode aspirar a nada maior”, disse Francisco, que, sobre a misericórdia como “limite para o mal”, citou Bento XVI, acrescentando duas perguntas retóricas: “Por acaso, as nossas inseguranças e desconfianças são capazes de suscitar doçura e consolação na solidão e no abandono?”.

Para tornar a misericórdia “acessível, tangível, encontrável”, acima de tudo, o papa recordou que “um Deus distante e indiferente pode ser ignorado, mas não resistimos facilmente a um Deus tão próximo e, além disso, ferido por amor.

A bondade, a beleza, a verdade, o amor, o bem – eis o que podemos oferecer a este mundo mendicante, ainda que em vasos meio quebrados. No entanto, não se trata de atrair a si mesmos.

O mundo – disse Francisco – está cansado de encantadores mentirosos… e, eu me permito dizer, de padres ou bispos na moda. As pessoas ‘farejam’ e se afastam quando reconhecem os narcisistas, os manipuladores, os defensores de causas próprias, os arautos de cruzadas vãs. Em vez disso, tentem ajudar a Deus, que já Se introduz antes ainda da chegada de vocês”.

Nesse sentido, “Deus não se rende nunca! Somos nós, que, acostumados ao rendimento, muitas vezes nos acomodamos, preferindo nos deixar convencer que realmente puderam eliminá-Lo e inventamos discursos amargos para justificar a preguiça que nos bloqueia no som imóvel das lamentações vãs: as lamentações de um bispo são coisas feias”.

Em segundo lugar, é necessário, segundo o papa, “iniciar” aqueles que são confiados aos pastores: “Eu lhes peço para não terem outra perspectiva para olhar os seus fiéis do que a da sua unicidade, de não deixarem nada de não tentado a fim de alcançá-los, de não poupar qualquer esforço para recuperá-los.

Sejam bispos capazes de iniciar as suas Igrejas nesse abismo de amor. Hoje – disse Francisco – pedem-se frutos demais de árvores que não foram cultivadas o suficiente. Perdeu-se o sentido da iniciação, e, no entanto, nas coisas realmente essenciais da vida, tem-se acesso apenas mediante a iniciação.

Pensem na emergência educativa, na transmissão tanto dos conteúdos quanto dos valores, no analfabetismo afetivo, nos percursos vocacionais, no discernimento nas famílias, na busca da paz: tudo isso requer iniciação e percursos guiados, com perseverança, paciência e constância, que são os sinais que distinguem o bom pastor do mercenário”.

Francisco se debruçou com atenção particular sobre o tema da formação dos futuros padres: “Peço-lhes que cuidem com especial solicitude as estruturas de iniciação das suas Igrejas, em particular os seminários.

Não os deixem ser tentados pelos números e pela quantidade das vocações, mas busquem a qualidade do discipulado.

Não privem os seminaristas da sua firme e terna paternidade. Façam-nos crescer a ponto de adquirir a liberdade de estar em Deus ‘tranquilos’ e serenos como crianças desmamadas nos braços da sua mãe”; não como presas dos próprios caprichos e escravos das próprias fragilidades, mas livres para abraçar aquilo que Deus lhes pede, mesmo quando isso não parece tão doce quanto o seio materno era no início.

E fiquem atentos quando alguns seminaristas se refugiam na rigidez; por baixo, sempre há algo de feio”.

E ainda: “Eu lhes peço também para agirem com grande prudência e responsabilidade ao acolher candidatos ou incardinar sacerdotes nas suas Igrejas locais. Por favor, prudência e responsabilidade nisso.

Lembrem-se de que, desde o início, quis-se como inseparável a relação entre uma Igreja local e os seus sacerdotes, e nunca se aceitou um clero vagante ou em trânsito de um lugar para outro. E essa é uma doença dos nossos tempos”.

Por fim, o papa pediu que os bispos sejam “capazes de acompanhar”, citando, a esse respeito, a parábola do bom samaritano: “Sejam bispos com o coração ferido por tal misericórdia e, portanto, incansável na humilde tarefa de acompanhar o homem que, ‘por acaso’, Deus colocou no seu caminho”.

E, ainda, recomendou o papa aos novos bispos, “acompanhem por primeiro, e com paciente solicitude, o seu clero” e “reservem um acompanhamento especial para todas as famílias, regozijando-se com o seu amor generoso e encorajando o imenso bem que elas dispensam neste mundo. Acompanhem sobretudo as mais feridas. Não ‘passem ao largo’ diante da sua fragilidade”.

“Fico alegre por acolhê-los e por poder compartilhar com vocês alguns pensamentos que vêm ao coração do sucessor de Pedro, quando vejo diante de mim aqueles que foram ‘pescados’ pelo coração de Deus para guiar o Seu povo santo”, tinha iniciado o papa.
“Deus os livre de tornar vão tal frêmito, de domesticá-lo e esvaziá-lo da sua potência ‘desestabilizadora’. Deixem-se desestabilizar, é bom para um bispo”, disse Francisco.

“Muitos, hoje, se mascaram e se escondem. Eles gostam de construir personagens e inventar perfis. Tornam-se escravos dos parcos recursos que recolhem e aos quais se agarram como se bastassem para comprar o amor que não tem preço.

Não suportam o frêmito de se saberem conhecidos por Alguém que é maior e não despreza o nosso pouco, é mais Santo e não culpa a nossa fraqueza, é realmente bom e não se escandaliza com as nossas chagas.

Não seja assim para vocês”, concluiu: “Deixem que tal frêmito percorra vocês. Não removam-nos nem o silenciem”.

via Aleteia

sábado, 22 de fevereiro de 2020

“Fora nazista”: torcida reage e homem é preso por racismo durante jogo

Leroy Kwadwo (c.) é consolado por jogador da equipe adversária após insultos racistas de torcedor (Foto: picture-alliance/dpa/nordphano)

Por Geledés

Um torcedor foi preso numa partida da terceira divisão do futebol alemão na noite da última sexta-feira (14/02), após ter sido identificado por outros espectadores como autor de ofensas racistas contra um jogador da equipe visitante.

Um apoiador do time local, o Preußen Münster, proferiu insultos racistas e imitou ruídos de macaco para provocar o zagueiro Leroy Kwadwo, de origem ganesa, do Würzburger Kickers. Outros torcedores presentes no estádio o apontaram e ajudaram os seguranças a identificá-lo para que pudesse ser preso, sob gritos de “fora nazistas”.

“Isso é algo que não tem lugar em um campo de futebol e, certamente, não em nosso estádio”, disse o presidente do Preußen Münster, Christopher Strasser. “Nos distanciamos claramente desse tipo de atitude; eu pedi desculpas ao Würzburg logo após o jogo.”

Em seu perfil no Instagram, Kwadwo lamentou o ocorrido e agradeceu o apoio dos torcedores da equipe adversária. “Isso me deixa triste e com raiva. Minha pele é de outra cor, mas eu nasci aqui. Sou um de vocês. Eu vivo aqui e posso viver minha paixão e destino como atleta do Würzburg”, afirmou o jogador, de 23 anos.

“A reação de vocês foi exemplar – vocês não podem imaginar o que isso significa para mim e para outros jogadores de cor”, afirmou Kwadwo aos apoiadores do Preußen Münster. “Obrigado pela humanidade de vocês!”

Após o jogo, Kwadwo disse a emissora ZDF que a reação dos torcedores o ajudou a manter a calma. “Quando algo assim acontece e é cortado logo de inicio, essas pessoas não têm chance nenhuma”, observou. “O futebol tem grande poder. Devemos todos permanecer unidos para dizer que, se isso continuar, então não vamos jogar”, afirmou.

O técnico do Würzburg, Michael Schiele, qualificou a reação dos torcedores do Münster de “sensacional”.

“Espero que não permitam que ele vá a um jogo de futebol novamente”, disse no Twitter o capitão da equipe, Sebastian Schuppman, sobre o torcedor que proferiu os insultos.

Segundo o jornal Westfälischen Nachrichten, o agressor era um homem de 29 anos da cidade de Steinfurt. De acordo com a polícia, ele deverá responder na Justiça por incitamento ao ódio.

A Federação Alemã de Futebol (DFB) elogiou a reação da árbitra Katrin Rafalski. Ela tentou acalmar o jogador após ser informada por ele do que estava acontecendo e ordenou que fosse emitido um anuncio no estádio em razão do ocorrido, acatando o procedimento estabelecido pela Uefa para casos como esse.

A DFB qualificou o episódio como “triste e vergonhoso”. O incidente ocorre dez dias após torcedores do Schalke 04 insultarem o jogador Jordan Torunarigha, do Hertha Berlim, durante uma partida da Copa da Alemanha. O clube foi multado pela DFB em 50 mil euros.

Após os ânimos se acalmarem, a partida entre o Preußen Münster e o Würzburger Kickers pôde prosseguir. O placar final foi de zero a zero, mas Kwadwo saiu de campo como vencedor em mais um episódio envolvendo o racismo no futebol.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

“O governo não irá nos dividir”, diz líder Tuíra Kayapó


Por Amazônia Real


Aldeia Piaraçu/TI Capoto Jarina, São José do Xingu (MT) – Líder feminina histórica do movimento indígena, Tuíra Kayapó é um dos grandes nomes do “Encontro dos Povos Mebengokrê e lideranças indígenas do Brasil”, que acontece nesta semana na Terra Indígena Capoto Jarina, no rio Xingu, em Mato Grosso. O encontro se encerra nesta sexta-feira (17). Em entrevista exclusiva à Amazônia Real, Tuíra Kayapó lembrou do gesto que tornou-se símbolo da luta de seu povo contra as barragens, há 31 anos. Ela também defendeu o surgimento de novas lideranças femininas e reforçou a união dos povos indígenas: “O governo não irá nos dividir”, declarou Tuíra, à reportagem.
Tuíra Kayapó tornou-se mundialmente conhecida por seu papel decisivo no I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), quando em fevereiro de 1989 diversas nações indígenas debateram a construção da hidrelétrica de Kararô, atual Belo Monte. A imagem da jovem Tuíra encostando um facão no rosto do então presidente da Eletronorte, engenheiro José Antônio Muniz Lopes, e explanando o grito Kayapó de luta – “Tenotã-mõ” -, tornou-se referência para todos que defendem a Amazônia.
“Eu só queria mostrar a ele o que é opressão. Estava lá e só ouvia aquele homem branco insistindo em uma fala para construir a hidrelétrica”, conta Tuíra, com tradução de sua neta O.é Paikan. O gesto de Tuíra teve grande repercussão em um contexto de discussão sobre barragens no rio Xingu do qual os indígenas tinham pouca participação nas reuniões com autoridades do governo brasileiro – na época, o presidente da República era José Sarney (MDB). O projeto de Belo Monte foi temporariamente engavetado, mas voltou nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016).
Tuíra ameaça com um facão o então presidente da Eletronorte, José Antonio Muniz Lope( Foto: Protássio Nêne/Estadão Conteúdo-1989)
Na entrevista à Amazônia Real, Tuíra falou de suas esperanças sobre o surgimento de novas lideranças e da participação da mulher na publicação do documento que será divulgado nesta sexta (17) no final do “Encontro dos Povos Mebengokrê e lideranças indígenas do Brasil”, que reúne mais de 600 indígenas de 45 etnias e pessoas não-indígenas, na aldeia Piaraçu da Terra Indígena Capoto Jarina, onde vive seu avó e anfitrião da reunião, o líder Raoni Kayapó.
Nesta quinta-feira (16), Tuíra integrou a mesa de debate das mulheres indígenas que redigiram uma Carta manifestando o resultado de discussões delas entre as vozes masculinas dos grandes caciques presentes.
“Nós, mulheres indígenas de mais de diferentes povos indígenas do Brasil, representadas por várias regiões (…) concebemos coletivamente esse grande chamado do Cacique Raoni (…). Enquanto mulheres lideranças e guerreiras, geradoras e protetoras da vida, iremos nos posicionar e lugar contra as questões e as violações que afrontam nossos corpos e nossos territórios”, foram os dizeres de abertura do documento que tratou de temas ligados à saúde indígena, educação, violência e por mais igualdade de decisões dentro dos territórios indígenas.

Nascida antes do contato com os sertanistas do órgão indigenista da época, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), na década de 1940, quando os Kayapó habitavam a bacia do Butire, como chamam o rio Xingu, Tuíra é inspiração das jovens na construção de um novo protagonismo feminino indígena nas aldeias. Foi ela quem liderou a comitiva Kayapó durante a marcha “Meu corpo, meu território”, o 1º Encontro Nacional de Mulheres Indígenas, que aconteceu em Brasília em agosto de 2019, reunindo mais de duas mil mulheres.

Para Tuíra, a união é o principal resultado do encontro na Aldeia Piaruçu.  “No passado, houve muitas guerras entre nós, mas hoje estamos todos juntos, deixando as divergências de lado. Não podemos deixar o governo vir com promessas e nos separar novamente.  Nós lideranças temos muita responsabilidade porque somos o espelho para os jovens; é isso que buscamos aqui”, afirmou.

Demandas femininas

Tuíra (de vestido verde entre Raoni e Ângela Mendes e a neta de vermelho atrás com demais lideranças (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
Nos últimos dias, em frente à uma plateia formada por muitos caciques e grande parte pelo público masculino, as lideranças mulheres debaterem temas que muitas vezes acabam de fora nesse tipo de encontro. O atendimento da saúde indígena seria um dos focos das demandas femininas. Jovens lideranças fazem críticas às constantes mudanças realizadas na gestão da saúde indígena ao longo dos anos. É o caso de Maial Paiakan Kayapó. A jovem indígena lembra que mudanças ocorreram descontextualizada e sem a participação dos indígenas nas discussões sobre a saúde indígena no passado. Ela cita a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que até 2010 era responsável pela saúde indígena. Naquele ano, a gestão foi tirada da Funasa, após a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
“As mudanças nas coordenações da Funasa e as novas políticas públicas construídas fora do contexto indígena só trazem retrocessos. Demoramos muito tempo para conquistar certas modificações, como a integração das agentes de saúde mulheres. Agora não temos mais garantias que isso continue”, explicou Maial Paiakan Kayapó, neta de Tuíra. Ela trabalhou por dois anos na Sesai.

Maial Paiakan Kayapó diz que o desrespeito ao conhecimento tradicional no atendimento indígena é uma das consequências das mudanças na saúde indígena. “A desvalorização das parteiras,  o não cumprimento ao período de resguardo pós-parto e a proibição do uso da medicina e das ervas indígenas nos períodos  colocam em risco a vida da mulher indígena”, afirma Maial.


Violência contra as mulheres indígenas

Célia Xakriaba no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: AIK Produções)
Durante o encontro, as mesas lideradas por mulheres deram coragem para que muitas outras indígenas manifestassem suas denúncias. Os efeitos da extração ilegal de minério e madeira permearam as falas da plenária. “Os brancos confundem a mente da comunidade com o dinheiro. Precisamos de ajuda para acabar com o garimpo em nossa terra que só traz prostituição e álcool. E os homens acabam se envolvendo nesse esquema muito mais do que as mulheres”, afirmou Valdete Kayabi, sob aplausos.

A violência contra as mulheres nas aldeias foi outro ponto importante debatido de forma inédita em um encontro dessa natureza. “Entre os Xavantes esse foi um dos temas que as mulheres das aldeias nos trouxeram. É um assunto delicado, pois foi praticado pelos próprios moradores das aldeias, mas estamos tentando compreender e criar ações para combater. Esse tipo de violência nunca tinha acontecido antes entre o nosso povo”, explicou Samantha Ròotsitsina, filha do primeiro deputado indígena do país, Mario Juruna (1943-2002), e que também integra as mesas das lideranças femininas.
“Nós não vamos aceitar mais violência tendo ‘cultura’ como desculpa. Muitas questões precisam ser revistas. O nosso território é o nosso corpo e o nosso espírito”, diz Célia Xakriabá, uma das coordenadoras da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), e primeira de seu povo a cursar doutorado –  tem formação em Antropologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para a ex-candidata a senadora Telma Taurepang, de Roraima, o evento trouxe avanços sobretudo para as mulheres xinguanas.
“Quando vemos de fora tudo parece acontecer a passos lentos. Nós, do lavrado, fomos contatados há mais tempo. Aqui (no Xingu) foi um contato recente. Mas as xinguanas já são parte discussão. Elas foram a maioria na participação das Marcha das Mulheres Indígenas lideradas pela Tuíra Kayapó e sempre foi a nossa grande inspiração como mulher indígena”, diz Telma Taurepang.
Telma Taurepang no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: AIK Produções)


“Não devemos deixar o idioma e as diferenças culturais nos separarem. Quem mora no litoral e em outras áreas tiveram o contato mais antigo, muitas de nós perderam o tronco linguístico. Devemos investir em encontros e nos fortalecer. Toda experiência de troca é muito importante entre nós mulheres indígenas”, disse Lucilene Martins Tremembé, que participou da redação da Carta das Mulheres Indígenas. Os Tremembé têm seu território tradicional localizado no Ceará.

As mulheres também se mobilizaram contra as acusações da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, a pastora evangélica Damares Alves. Damares frequentemente afirma que práticas ancestrais, abandonadas há décadas por grande parte das etnias brasileiras, ainda são rotina nas aldeias. A ministra costuma exemplificar essas chamadas “práticas ancestrais” com o que ela considera “infanticídio” de crianças indígenas baseada em relatos sem comprovação.

“Os casos são muito raros e, na maioria das vezes, são ligados ao abandono total do Estado e falta de apoio a essas comunidades”, diz Maial Paiakan. “É uma vergonha ter uma mulher no ministério com essa visão tão machista. Ela nem poderia falar de algo que não tem propriedade”, completa a liderança.
“Muita coisa mudou entre o nosso povo, inclusive temos muitas caciques mulheres e estudantes entre nós”, conclui a jovem Kayapó que, como todas as suas irmãs, tem curso superior e integra uma nova geração de indígenas que estão casando após os 30 anos de idade.

Para Tuíra Kayapó, a fala do atual governo apenas reforça o preconceito contra a mulher indígena. “Somos todos seres iguais, seres humanos. Temos pele e corpos iguais”, relembra Tuíra. “Na religião de vocês tem um Deus que disse que todos são iguais e que devemos tratar todos bem. Onde está isso? Não era para ter preconceito, era para todos vivermos em paz e união?”.

Mulheres nas eleições

Telma Taurepang durante durante encontro na Aldeia Piaruçu, TI Capoto Jarina, em Mato Grosso. (Foto: Juliana Arini/Amazônia Real)
Célia Xakriabá, de Minas Gerais, afirma que a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) tem interesse em ampliar a participação das mulheres indígenas nas eleições. A proposta é lançar nomes já nas campanhas municipais de 2020,  para garantir possíveis vagas no legislativo e executivo. Mas algumas indígenas ainda analisam a ideia com cautela. “Ser candidata não está entre os meus planos, eu só o faria se tivesse um plano sério envolvido. Sei que tem todo o peso da história do meu pai (Mário Juruna). Mas, é algo que precisa vir com uma proposta concreta”, explica Samantha Ròotsitsina.

Sucessão feminina

Cacique Raoni e lideranças no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
Uma das surpresas do evento foi a divulgação pelo cacique Raoni de que a escolha do seu possível sucessor, entre o seu povo, incluirá a presença feminina. Caso isso se concretize a liderança deve quebrar a tradição patrilinear de sucessão Kayapó. “Será um homem e uma mulher”, respondeu o cacique ao ser questionado pela Amazônia Real durante a coletiva de imprensa na tarde de quarta-feira (15).

O Encontro dos Povos Mebengokrê e lideranças indígenas do Brasil é promovido pela liderança Raoni Kayapó através do Instituto Raoni. O intuito da reunião é unir as vozes dos povos indígenas brasileiros frente às mudanças nas políticas para os indígenas promovidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.

A iminência de votação dos projetos de leis que liberam o arrendamento e a mineração em terras indígenas, entre outras questões, está entre os principais pontos que mobilizaram as lideranças. Participaram cerca de 600 povos indígenas de 45 etnias. O documento final das plenárias indígenas deve ser divulgado na tarde desta sexta-feira.
  • Cacique Raoni no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Cacique Raoni no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto:Eric Marky Terena/Mídia Índia/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Kamikiá Kisedjê/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto:Eric Marky Terena/Mídia Índia/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto Midia Índia/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Mulheres indígenas no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Indígena amamenta o filho durante o Encontro (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Tuíra Kaiapó durante encontro na Aldeia Piaruçu, TI Capoto-Jarina, em Mato Grosso.(Foto: Juliana Arini/Amazônia Real)
  • Tuíra Kaiapó e sua neta O.é Paiakan Kaiapó (Foto: Juliana Arini/Amazônia Real)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto:Eric Marky Terena/Mídia Índia/Cobertura Colaborativa)
  • Tuíra Kayapó no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto:Eric Marky Terena/Mídia Índia/Cobertura Colaborativa)
  • Filha de Chico Mendes, Ângela Mendes no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Caciques reunidos no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Cacique Megaron no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê e lideranças indígenas do Brasil, que reuniu mais de 600 indígenas de 47 etnias (Foto: AIK Produções)
  • Cacique Raoni no Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto Midia Ninja/Cobertura Colaborativa)
  • Encontro dos Povos Mebengokrê (Foto: Kamikiá Kisedjê/Cobertura Colaborativa)
  • Aldeia Piaruçu da Terra Indígena Capoto Jarina, Mato Grosso (Foto: Mídia Ninja/Cobertura Colaborativa)

*A repórter Juliana Arini foi enviada pela agência Amazônia Real à Aldeia Piaraçu para cobrir o Encontro Mebengokrê a convite da Fundação Raoni.